Em delação premiada, o diretor da JBS, Ricardo Saud, afirmou que R$ 15 milhões foram pagos em propina ao Solidariedade em troca de apoio à candidatura da chapa tucana Aécio Neves-Aloyiso Nunes à eleição presidencial de 2014. O valor, segundo o delator, foi negociado pelo presidente do partido e deputado federal, Paulinho da Força. Do total, ainda de acordo com o delator, R$ 3 milhões foram destinados ao partido por meio da empresa Nando’s Transportes, de Barretos (SP).
Procurada, a assessoria de imprensa do deputado federal informou que o Solidariedade recebeu R$ 11 milhões da JBS para a campanha de políticos do partido, e que não houve irregularidades.
A empresa Nando’s Transportes afirmou que não cometeu nenhum ato irregular, e disse que está à disposição da Justiça para esclarecimentos.
Acusações
No depoimento dado à Procuradoria-Geral da República em 5 de maio de 2017, Saud revela o esquema de caixa 2 pago a partidos para apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB) à presidência da República. De acordo com o delator, R$ 15 milhões foram pagos ao Solidariedade. O procurador perguntou ao diretor quem foi o responsável pela negociação e o delator acusou o deputado Paulinho da Força, que também é presidente da Força Sindical.
Saud afirma que o partido já fazia oposição ao governo Dilma Rousseff (PT), mas que o deputado “pediu uma ajuda” à JBS.
“Mas, o Solidariedade, na verdade, ele não foi comprado. A gente não pode falar comprado porque foi mais uma ajuda porque ele já vinha contra a Dilma o tempo todo, ele já ia automaticamente pro PSDB, mas pra isso pediu uma ajuda. Então, vamo falar que foi comprado também por R$ 15 milhões.”
Aos procuradores, Saud disse que R$ 11 milhões foram pagos em “doações dissimuladas de doação oficial”, como propina ao diretório nacional do Solidariedade. O delator afirmou que outros R$ 3 milhões foram pagos por meio da empresa Nando’s Transportes, prestadora de serviços à JBS em Barretos, onde a empresa possui um frigorífico.
Como prova, o delator apresentou uma nota fiscal emitida neste valor no dia 1º de setembro de 2014, e o contrato de fachada, segundo ele, firmado com a transportadora. O procurador perguntou se o delator conhecia o dono da empresa, e ele confirmou.
“Conheço sim, senhor. É o presidente do sindicato não sei de que também no Estado de São Paulo. Esse é um prestador de serviço da empresa. Ele presta serviço pra empresa lá em Barretos. Mas, foi feito um contrato a parte, totalmente dissimulado, tudo, tá aqui nos anexos também”, diz Saud.
Conforme o documento apresentado pelo delator, a Nando’s Transportes foi contratada pela JBS em março de 2014 para o transporte de funcionários. A empresa tem como dona Arlete Fátima da Silva Anastácio, mulher de Luiz Carlos Anastácio, o Paçoca, que atuou como vereador em Barretos e atualmente é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação.
O filho do casal, Leandro Anastácio, filiado ao Solidariedade, é o atual presidente da Câmara dos Vereadores de Barretos. Na terça-feira (23), o político alegou problemas particulares e pediu licença do cargo por um período de 30 dias.
Sem irregularidades
A assessoria de imprensa do deputado Paulinho da Força informou que o Solidariedade recebeu R$ 11 milhões da JBS para a campanha de políticos do partido em todo o país e que o montante foi contabilizado e aprovado na Justiça Eleitoral.
Em nota, a Nando’s Transportes informou que sempre zelou pelo profissionalismo e retidão em sua atuação, e que é efetivamente prestadora de serviço de transporte para o Grupo JBS. Também afirmou que não teve acesso ao conteúdo da delação, mas que está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação, Luiz Carlos Anastácio, e o filho dele, o vereador Leandro Anastácio, não foram encontrados para comentar o assunto.