Gritaria, confusão e pelo menos duas pessoas passando mal. O cenário era de indignação nesta segunda-feira (2), na Estação Pampulha, em BH. Usuários do transporte coletivo afirmam que a situação está um caos no local: os ônibus mal passam e, quando aparecem, precisam carregar um número grande de passageiros.
Usuária da linha 51 (Estação Pampulha/Centro), a diarista Daiana Soares, de 42 anos, diz que esperou o coletivo por mais de 40 minutos, até conseguir pegá-lo. O problema, porém, não parou por aí: o ônibus estava lotado. “Está igual uma lata de sardinha. A gente paga passagem cara para andar apertado. Não tem hora, é sempre assim: de manhã, de tarde e à noite. E ainda querem falar de Covid…”, diz ela.
A estudante Letícia Lana, de 17 anos, teve que chegar atrasada para as aulas no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), na região Centro-Oeste de BH. O motivo? O ônibus que ela costuma pegar, o 5250 (Betânia/Estação Pampulha), a deixou na mão, segundo ela.
“Tenho que chegar no Cefet às 13h. Sempre pego o de 11h50, mas hoje cheguei aqui e vi que ele não estava previsto no letreiro. Agora só 12h30 e vai estar lotado. Não vou chegar no horário”, lamentou.
Confusão
Na última sexta (29), os consórcios operacionais do serviço de transporte público de Belo Horizonte afirmaram que o número de viagens ofertadas seria proporcional “aos recursos financeiros gerados pelo sistema” e “que sejam suficientes para cobrir seus custos”. Ou seja: poderia faltar ônibus.
O setor alega queda da demanda de passageiros, alta do diesel e falta de reajuste do valor das passagens como os principais problemas atualmente. Ainda em 2020, as empresas do segmento venderam 417 veículos para evitar o colapso do sistema, em uma transação de cerca de R$ 41 milhões.
Porém, apesar de ter comunicado na última sexta (29) a possível redução dos horários de ônibus, após reunião com a Prefeitura de Belo Horizonte, as empresas de transporte coletivo “voltaram atrás” e ficou acordado que cumpririam, sim, a capacidade máxima do serviço. E tanto de acordo com a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) quanto conforme o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), é isso o que está acontecendo.
Questionado sobre a situação específica desta segunda (2), o SetraBH afirmou que os horários dos ônibus estão sendo cumpridos segundo o determinado pela BHTrans. Em nota, a BHTrans ressaltou que está fiscalizando os serviços “e em caso de descumprimento do contrato, haverá penalização das empresas”, disse. O órgão, porém, não especificou quais são essas penalizações.
A reportagem também questionou a BHTrans sobre como está a situação dos ônibus após o período mais crítico da Covid-19 e se o número de viagens voltou ao pré-pandemia. Porém, ainda não obteve retorno.
Colapso
Apesar de o SetraBH e da BHTrans mencionarem o cumprimento dos horários de ônibus, a situação é de colapso, segundo André Veloso, coordenador de políticas públicas do Nossa BH, movimento que cobra ações do poder público em diversas áreas.
“O sistema está em colapso. Os responsáveis são as empresas de ônibus e a Prefeitura de Belo Horizonte. As empresas não se esforçam para achar uma solução, e a Prefeitura não enfrenta os interesses das empresas”, diz ele.
Conforme relata Veloso, está se tornando raro encontrar viagens de ônibus fora dos horários de pico. “As empresas estão retirando os carros de circulação. A Prefeitura está deixando isso acontecer, quando tem instrumentos para não permitir”, diz. E a população? “Está sendo feita de refém”, conclui ele.
(Com Rômulo Almeida)