De acordo com os laudos sobre a exumação dos restos mortais de João Goulart divulgados nesta segunda-feira (1º), não é possível afirmar se a causa da morte do ex-presidente da República foi natural ou violenta. Goulart morreu em 1976 na Argentina e sua família suspeitava que ele tivesse sido assassinado por agentes do regime militar.
“Não é possível afirmar uma causa natural de morte para Jango. E é simples vocês entenderem isso. A declaração de óbito trazia infarto do miocárdio. Ora, passados 37 anos é natural que o coração não esteja mais disponível para examinarmos. Portanto, não há como confirmarmos a morte natural por infarto do miocárdio. Por outro lado, no aspecto de morte violenta, já foi bem respondido que não foram encontradas as substâncias indagadas aos peritos pela SDH, se elas poderiam ter causado a morte de Jango. Essas substâncias [venenosas] não foram encontradas”, disse o perito Jefferson Evangelista Correa, da Polícia Federal.
No entanto, o perito havia dito antes que os dados apontavam para morte natural. “Podemos concluir que os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa [de Jango], são compatíveis com morte natural”, disse. Mas, segundo o especialista, isso não significa que a hipótese de envenenamento tenha sido descartada, “tendo em vista as mudanças físicas e químicas que o corpo inumado sofre ao longo de 37 anos”.
A apresentação dos resultados da perícia foi marcada por confusão e os especialistas foram questionados diversas vezes pelos jornalistas sobre o que o laudo indicava. Ao ser pressionado pelos jornalistas, o perito disse que “na verdade, o laudo é inconclusivo quanto à causa da morte, se natural ou violenta. (…) Não é possível confirmar uma causa de morte natural para Jango. Não há como confirmarmos a morte por infarto do miocárdio.”
O corpo de João Goulart foi exumado no dia 14 de novembro de 2013, em São Borja, no interior do Rio Grande do Sul, onde o ex-presidente estava enterrado.
Amostras dos restos mortais de Jango foram coletadas em Brasília e analisadas em laboratórios do Brasil, Portugal e Espanha. Peritos argentinos, cubanos, uruguaios e representantes da Cruz Vermelha e do Ministério Público Federal também acompanharam as análises.
As análises dos restos mortais de Jango foram feitas a partir de exames toxicológicos, raio-X e análise dos gases contidos no caixão de Jango. Os peritos afirmaram que um total de 700 mil substâncias possíveis substâncias foram analisadas durante o processo.
A exumação ocorreu após decisão da CNV (Comissão Nacional da Verdade) e do MPF-RS (Ministério Público Federal do Rio a Grande do Sul).
O procedimento visava esclarecer as causas da morte do ex-presidente que ficou no poder entre 1961 e 1964, quando foi deposto por um golpe militar.