A qualidade dos ônibus municipais de Belo Horizonte recebeu a pior nota na avaliação de usuários em comparação com os sistemas das capitais de Rio de Janeiro e São Paulo, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Em uma escala de 0 a 10, a cidade recebeu pontuação inferior a 5 em todos os principais quesitos analisados: limpeza e manutenção do veículo, motorista, lotação, fluidez do trânsito e segurança. Os resultados do estudo foram divulgados nessa sexta-feira (18), mesmo dia em que a Polícia Civil informou que uma falha mecânica foi a causa do acidente envolvendo um ônibus da linha 305 (Estação Diamante/Mangueiras), no Barreiro, que matou cinco pessoas, em fevereiro.
Os dados foram coletados do MoveCidade, aplicativo do Idec que permite aos usuários avaliar a qualidade de diferentes modais de transporte. A nota média dos ônibus de Belo Horizonte foi 3,61, enquanto no Rio foi 4,23 e, em São Paulo, 5,54. “A gente não esperava isso, porque o sistema do Rio costuma ser mais criticado. São pessoas diferentes avaliando, podem ter critérios diferentes de exigência, uma cultura de criticar mais o transporte ou não, mas há uma leve tendência de Rio e BH estarem um pouco piores do que São Paulo”, pontuou o pesquisador em mobilidade urbana do Idec, Rafael Calabria, ressaltando que a comparação entre os municípios não é o objetivo da pesquisa.
No geral, a informação ao usuário nos ônibus foi o item mais bem-avaliado na capital, e a infraestrutura para pessoas com deficiência nos pontos de parada, mais mal-avaliado. Entre os quesitos principais, a lotação dos coletivos recebeu a pior nota, seguido da segurança. O motorista e o trânsito foram os mais bem-conceituados. Segundo Calabria, os passageiros acabam se acostumando, em alguns casos, com os problemas do serviço, mas devem criar o hábito de reclamar. “Um ônibus limpo, com a infraestrutura adequada, é um direito. Não é só levar de casa para o trabalho, tem que te levar com o mínimo de qualidade”, afirmou.
A estudante Camila Maffei, 18, costuma pegar o ônibus da linha 205 (Metrô Calafate/Buritis) todos os dias e encara os mesmos problemas. “Fica muito cheio e demora muito a passar, de 20 a 25 minutos. Pelo preço das passagens, a qualidade deveria ser melhor”, afirmou.
Segundo o consultor em transportes e trânsito Silvestre de Andrade, em São Paulo, o metrô faz muita diferença, e no Rio, historicamente, existe uma superoferta de linhas de ônibus acompanhada de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). “Em BH, o ônibus assume o papel de sistema principal, por falta de outros, mas não foi desenhado para isso”, disse.
BHTrans. A empresa informou que, de janeiro a março deste ano, fiscalizou 2.157 ônibus e recolheu 425 autorizações de tráfego e que os veículos da capital têm menos de cinco anos. Segundo a BHTrans, em breve deve ser assinada a ordem de serviço de auditoria dos contratos do transporte.
Segurança. De janeiro a março deste ano, foram registrados 429 roubos e 678 furtos a transporte coletivo em BH, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública. A Guarda Municipal atua em algumas linhas e estações da cidade.
Confira AQUI a avaliação dos usuários dos ônibus municipais de BH.
Maioria espera ônibus mais de 15 minutos na capital mineira
Cerca de 80% dos passageiros esperam mais de 15 minutos nos pontos pelos ônibus em BH. Aproximadamente 10% dos usuários esperam mais de 45 minutos. Os dados também estão na pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
“Isso é resultado da falta de controle da BHTrans sobre o sistema. Como não há recurso para fiscalizar e controlar as empresas nem para ampliar a oferta, as empresas retiram ônibus da rua, e isso aumenta o tempo de espera”, diz o integrante do Tarifa Zero, André Veloso.
A BHTrans informou que há um acompanhamento da oferta e da demanda de ônibus e que, quando há necessidade, os quadros de horários são alterados. A frota da capital tem 2.865 ônibus e 293 linhas. Segundo o órgão, 27 mil viagens de ônibus são fiscalizadas diariamente, de forma eletrônica.
Falha nos freios causou tragédia no Barreiro
A Polícia Civil concluiu que uma falha no sistema de frenagem causou o acidente com o ônibus da linha 305 (Estação Diamante/Mangueiras), no Mangueiras, no Barreiro, em BH, no dia 13 de fevereiro, deixando cinco mortos e 18 feridos. “Após análise, foi observado um desgaste no compressor do sistema de freio. No momento do acidente, não havia pressão suficiente para que o ônibus freasse, causando o acidente”, disse o delegado Pedro Ribeiro Oliveira.
Segundo testemunhas, o motorista avisou aos passageiros, antes da tragédia, que o freio não estava funcionando. Laudo da perícia apontou que o tacógrafo marcava velocidade de 100 km/h na hora do acidente.
A BHTrans informou que cabe às empresas operadoras do serviço disponibilizar veículos em condições de segurança e que realiza vistorias periódicas na frota. Após o acidente, a BHTrans intensificou a fiscalização e tornou “mais rigorosa” a vistoria. A Transoeste, responsável pela linha 305, teve a frota convocada para vistoria.(Bruno Menezes/RM)