Em menos de uma semana, duas pessoas que teriam sido vacinadas contra a febre amarela foram internadas com suspeita da doença em Belo Horizonte. Nos dois casos, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) vai confirmar se elas estão contaminadas. Também nesta semana, pais de um jovem de 15 anos, que morava em Teresópolis, no Rio de Janeiro, informaram que o filho morreu em decorrência de febre amarela mesmo já tendo sido imunizado. Apesar de a eficácia da vacina ser atestada por órgãos públicos e médicos, os registros geram receio.
Ouvidos pela reportagem, especialistas acreditam que, se confirmados, os casos devem ser estudados. No entanto, eles reforçam a eficácia da vacina. “Eu não tenho dúvida de que é preciso se imunizar”, informou o médico infectologista e vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Antonio Carlos de Castro Toledo Júnior. Para ele, se não houvesse a imunização, o número de vítimas seria maior.
Toledo Júnior explica que a vacina tem 95% de eficácia, o que é considerado excelente, uma vez que nenhuma vacina é 100% eficaz. “A cada cem pessoas que se vacinam contra febre amarela, 95 ficam protegidas”, afirmou o médico.
De acordo com Toledo Júnior, uma pessoa imunizada pode contrair uma doença por uma questão de falha vacinal ou até por ter um problema no organismo, que pode ter dificuldade de produzir anticorpos. O médico explicou ainda que uma vacina pode falhar por má conservação, aplicação errada, entre outros problemas. “É preciso avaliar se são falhas vacinais ou se são casos individuais”, completou o infectologista Marcelo Oliveira.
Casos. Entre os casos de pessoas que se vacinaram e podem ter contraído febre amarela está o de uma jovem de 23 anos, que foi internada na quinta-feira (22) no hospital Socor. Segundo o diretor da unidade, Gustavo Marques Braga, ela informou que já havia sido imunizada, mas não apresentou o cartão de vacinação. A paciente teria recebido a dose no ano passado. O quadro da jovem é estável.
O outro caso é o do endocrinologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rodrigo Bastos Fóscolo, que está internado no Hospital Felício Rocho. O estado de saúde dele não foi informado. Na internet, amigos do docente disseram que ele teria sido vacinado.
Emergência
Decreto. Ouro Branco, na região Central de Minas, decretou situação de emergência na quinta-feira por causa do surto de febre amarela. Desde o início do ano, a cidade registrou três mortes pela doença.
Jovem que tomou vacina morre
Pais de um jovem de 15 anos, que, mesmo vacinado, morreu por febre amarela, estão fazendo um apelo na internet para que as pessoas não deixem de usar repelente. Morador de Teresópolis, na região Serrana do Rio, Marcelo Rodrigues Pêgo faleceu no dia 10 de fevereiro e, segundo os pais dele disseram ao portal G1, o garoto tinha recebido a dose da vacina há 5 anos em uma clínica particular.
Ao G1, o Ministério da Saúde confirmou que foi constatada a presença do vírus da febre amarela no organismo do menino e informou que vai investigar a situação da vacinação, já que a clínica não está mais em funcionamento.
A mãe do garoto foi quem publicou um alerta no Facebook. A postagem de Ana Paula Pêgo teve mais de 9.400 compartilhamentos em um dia. Segundo Marcelo Pêgo, pai do adolescente, o filho cursava o primeiro ano do ensino médio. Ele ainda contou que o rapaz tinha hemofilia e tinha uma vida normal.
Balanço. Ao menos 38 pessoas morreram por febre amarela no Estado do Rio em 2018, segundo boletim divulgado na quarta-feira pela Secretaria de Saúde. Os casos confirmados são 85.
Minientrevista
Marcelo Oliveira
Infectologista
Quantas doses da vacina contra a febre amarela a pessoa precisa tomar durante a vida? Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma única vacinação que vale para toda a vida.
Mesmo se a pessoa tiver tomado a vacina há dez ou 20 anos, ela não deve repetir a dose? Atualmente, a recomendação continua a mesma de uma dose, mesmo para quem já tomou a vacina há muitos anos. A necessidade, ou não, de reforço vacinal muda de acordo com a evolução dos estudos. Pode ser que daqui a algum tempo haja alguma mudança.
Se a pessoa já tomou a vacina, ela pode frequentar qualquer lugar? Há algum tipo de restrição? Para aquelas pessoas que já foram vacinadas, a gente considera que não há risco. Alguns parques até estão pedindo cartões de vacinação na entrada.
E com relação àquelas pessoas que não podem se vacinar? Elas devem evitar? O que devem fazer? As pessoas que moram em área de risco para a transmissão da febre amarela e não podem se vacinar devem usar repelente, usar telas em janelas e também nas portas. Pessoas que tomam imunossupressores, por exemplo, não podem se vacinar.