A Polícia Federal apontou um elo entre supostos pagamentos de propina do Grupo J&F e o bunker dos R$ 51 milhões atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima e a seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, ambos do PMDB da Bahia. As informações, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, constam de relatório apresentado nesta terça-feira, 28, que imputa aos peemedebistas os crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro.
O documento citou, por exemplo, que o doleiro Lúcio Funaro, delator e apontado como operador do PMDB, chegou a reconhecer, em foto dos maços encontrados em um apartamento em Salvador, a marca de um banco ligado à holding em etiquetas que envolviam as cédulas. Geddel está preso preventivamente no Complexo da Papuda, em Brasília. Procurada, sua defesa não respondeu até a publicação desta matéria.
O delegado da PF Marlon Oliveira Cajado dos Santos afirmou, no relatório, ver indícios de crimes e ressaltou que o documento integra as investigações da Operação Cui Bono?, que apura as condutas de Geddel no período em que foi vice-presidente da Caixa Econômica Federal.
O ex-ministro é suspeito de ter beneficiado a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, na liberação de recursos.Ao ser apresentado a fotos dos maços de dinheiro encontrados no bunker de Salvador, Funaro disse reconhecer referências ao Banco Original do Agronegócio, da J&F. “Lúcio Funaro informou que os valores envoltos em ligas, com um pedaço de papel onde havia impresso o valor constante do maço de dinheiro, era exatamente como retirava o dinheiro dos seus doleiros e repassava para Geddel”, afirmou a PF no relatório.
O operador ainda “mencionou que o dinheiro envolto com cinta contendo a inscrição ‘BOA’, era na verdade uma referência ao Banco Original do Agronegócio”. Segundo o relatório, Funaro disse que “sabia disso porque já teria recebido dinheiro da mesma maneira do diretor jurídico do Grupo J&F Investimentos, senhor Francisco de Assis, e na ocasião o alertou sobre a facilidade de rastreamento do dinheiro”.
Em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Funaro afirmou ter entregue R$ 20 milhões a Geddel Vieira Lima em voos que realizava para Salvador. Os pousos e decolagens do operador foram confirmados pela empresa Aerostar. Nos documentos, constam períodos curtos, muitos de menos de uma hora, em que Funaro permanecia no aeroporto. Os registros corroboram dados de planilhas em que há datas dos supostos repasses do delator ao peemedebista. Dois voos foram testemunhados pela mulher de Funaro, Raquel Pitta.
Depósito
Ainda segundo o documento da PF, “os valores em espécie de origem ilícita entregues por Lúcio Funaro, decorrentes do crime antecedente de corrupção de Geddel Vieira Lima enquanto servidor da Caixa Econômica Federal, aparentemente foram armazenados na casa da mãe de Geddel, dona Marluce Vieira Lima, e posteriormente transferidos para o apartamento da Rua Barão de Loreto em Salvador, ocultando assim recursos originados de atividades criminosas”.
Para a PF, Geddel agia na Caixa “para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua área de alçada e fornecia informações privilegiadas para os outros membros da organização criminosa que integrava”. Dessa forma, o bando obtinha supostas propinas de empresas como “BR Vias, Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários S.A., Marfrig S.A., J&F Investimentos S.A., Grupo Bertin, JBS S.A.”.
Procurada, a assessoria de imprensa da J&F, responsável também pela JBS, Marfrig e Bertin, não comentou as acusações da PF. A assessoria da BR Vias e o deputado Lúcio Vieira Lima não responderam até a conclusão desta edição. Representantes da Oeste Empreendimentos não foram localizados.