
A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou uma denúncia robusta contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas, revelando um esquema minucioso de tentativa de golpe. De acordo com a PGR, as provas colhidas ao longo de quase dois anos de investigação mostram claramente a liderança de Bolsonaro na organização criminosa e seu conhecimento detalhado do plano.
Um dos pontos mais contundentes da denúncia é o discurso que Bolsonaro preparou para o caso de sucesso do golpe, encontrado tanto na sala do ex-presidente no Partido Liberal quanto no celular de Mauro Cid, seu ex-braço direito. “O discurso encontrado na sala de Jair Messias Bolsonaro reforça o domínio que este possuía sobre as ações da organização criminosa, especialmente sobre qual seria o desfecho dos planos traçados – a sua permanência autoritária no poder, mediante o uso da força”, afirma a PGR.

O plano incluía a decretação de estado de sítio e a implementação da Lei da Garantia e da Ordem (GLO). Segundo a denúncia, o objetivo era manter Bolsonaro no poder de maneira autoritária. A narrativa da PGR ainda detalha a conexão de Bolsonaro com os eventos de 8 de janeiro, destacando uma mensagem recebida do major-brigadeiro da Aeronáutica, Maurício Pazini Brandão, que confirmava a complementação do plano com contribuições da equipe do ex-presidente.
A denúncia também revela a participação de Mário Fernandes, então chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência, que atuava como interlocutor entre o governo e os apoiadores de Bolsonaro. Fotos encontradas no celular de Fernandes comprovam sua presença em acampamentos em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, evidenciando seu envolvimento direto.
O major-brigadeiro Brandão, em sua mensagem, ainda questionava Bolsonaro sobre a desmobilização ou manutenção do alerta das tropas, indicando um estado de prontidão para a execução do plano. “A ‘minha tropa’ (hehehehe) continua com ‘sangue nos olhos’. […] Conversa hoje com o Amir. Desmobilizamos a tropa ou permanecemos em alerta?”, escreveu.
A instabilidade pós-eleição de 2022, conforme a PGR, foi resultado de uma “longa construção da organização criminosa” que desde 2021 vinha trabalhando para incitar uma intervenção militar, difundindo desinformação sobre o sistema eletrônico de votação.
Mauro Cid, em seu depoimento, confirmou que Bolsonaro alimentava a esperança de uma ação militar, mantendo as pessoas mobilizadas na frente dos quarteis. “O então Presidente sempre dava esperanças que algo fosse acontecer para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe”, relata a denúncia, acrescentando que os comandantes das Três Forças teriam autorizado a permanência dos manifestantes por ordem de Bolsonaro.
A denúncia da PGR não deixa margem para dúvidas sobre a intenção e a organização por trás das ações do ex-presidente, revelando uma tentativa grave de subverter a democracia brasileira.