A Polícia Civil prendeu dois traficantes que executaram um comparsa por ele manter relações sexuais com mulheres de outros integrantes do bando e por espancar crianças e raspar a cabeça de mulheres de um condomínio dominado por eles. O crime foi na tarde de 12 de janeiro deste ano, em um conjunto habitacional conhecido com Carandirú, no bairro Alterosa, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte.
Os presos, Jeferson Rosa de Oliveira, de 26 anos, e Davidson de Paula Oliveira, de 24 anos, que são primos, e outros três homens que estão foragidos, executaram Alexandre Moizés Souza, o Xandão, de 37 anos, na frente de pelo menos 50 moradores, em uma espécie de “tribunal do crime”.
Segundo o delegado da homicídios de Ribeirão das Neves, Gustavo Garcia Assunção, o traficante Xandão assinou a sentença de morte dele ao manter relações sexuais com mulheres dos comparsas. Ainda de acordo com o policial, Xandão ficou viciado em drogas e quando ficava alucinado espancava crianças do condomínio e raspava a cabeça das moradoras.
“Os três, a vítima e os dois autores, comandavam o tráfico de drogas no residencial Alterosas, onde moram cerca de 2 mil pessoas e eles comandavam totalmente o local. Eles determinavam quem poderia morar, o que poderia ser feito dentro do residencial. Tudo tinha que ter a permissão dos autores”, conta o delegado.
“O que norteou a morte de Alexandre foi que ele estava dormindo com as mulheres de outros traficantes do bando da Biqueira. Segundo informações, Xandão estava fazendo uso muito grande de cocaína e estava abusando dentro do residencial. Estava batendo em moradores, raspando cabeças de mulheres. Porém, ele assinou a sentença de morte dele ao dormir com duas mulheres de traficantes da Biqueira”, conta o delegado.
Gustavo Assunção apurou que Xandão andava tão alucinado por causa da droga que chutava as crianças do condomínio e quase matou um morador batendo a cabeça dele contra um poste, que só não matou a vítima porque as pessoas não deixaram. Em outra ocasião, segundo ele, Xandão disparou vários tiros dentro do próprio apartamento com a mulher dele no local. “Foi morto pelos próprios comparsas, apenas em virtude de estar dormindo com as mulheres de traficantes de Biqueira”, reforçou o delegado.
JULGAMENTO
No dia do crime, segundo o delegado, os comparsas chamaram Xandão para “desembolar” a situação e o executaram com vários tiros, em plena luz do dia, na frente de mais de cinquenta moradores.
“Ele quis obrigar um dos traficantes a manter relações com uma ex-namorada dele para compensar ele ter dormido com a sua mulher. Esse traficante não quis e foi reclamar para os outros patrões do tráfico. No dia do crime, eles conversaram, dentro do residencial Alterosa, como eles mesmos disseram, para desembolar essa situação, e na hora do crime eles não aceitaram a desculpa do Xandão, sacaram as armas e o executaram com vários tiros na frente da população”, contou o delegado.
Outros três envolvidos no homicídio são procurados pela polícia. Segundo o delegado, os moradores do condomínio estão aliviados com a prisão de dois traficantes. “Após a prisão dos autores, a comunidade agradeceu, pois é um abuso o que eles cometem na região”, disse o delegado.
DROGAS
A polícia apreendeu uma grande quantidade de drogas com os dois homens presos. Foram 1.480 pinos de cocaína, 21 pedras de crack e um ponte contendo cocaína. “Tem vários apartamentos onde eles escondem armas e drogas. Eles, inclusive, falaram detalhes de como as drogas estavam embaladas”, disse o policial.
O clima no condomínio era de terror, segundo o delegado, e os moradores eram praticamente mantidos como reféns pelos traficantes, diante das ameaças e das atrocidades cometidas. “Alguns moradores saíram do local expulsos e eles começam a dominar alguns apartamentos. Eles mudam constantemente e adotam a postura de dormir cada dia em um apartamento para dificultar a ação policial. Portanto, temos três foragidos e temos certeza que dois estão lá dentro. Quem vai morar no residencial precisa de autorização deles”, disse Gustavo Assunção.
A reportagem conversou com os dois traficantes presos. Jeferson quis manter o silêncio, mas depois negou o crime. “Tenho nada a ver com isso, não. Nada a ver com nada, não”, disse. No entanto, ele disse que Xandão era seu parceiro, mas o que ele fez, de ficar com mulher dos outros, é errado. “É errado. Não, ele não pegou nenhuma mulher minha”, afirmou.
Seu primo Davidson também negou participação no crime. “O que eu posso falar de mim é que estou preso à toa. Eu conhecia o Xandão. Minha mãe era vizinha dele e eu só conhecia ele por causa disso”, disse. Questionado se ele mataria o comparsa se ele tivesse ficado com a mulher dele, Davidson respondeu: “Só Deus Sabe”.
O chefe do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Rogério de Melo Franco Assis Araújo, disse que é preciso acabar com a impunidade e “impunidade se combate prendendo criminosos para preservar a vida do ser humano, que é o bem maior”, afirmou.
“E o outro item que será acionado pelos nossos policiais será o gatilho, se necessário”, reforçou o chefe do DHPP.