Os dois casais suspeitos de tentar comprar ou fazer a adoção clandestina de um bebê do sexo masculino, que nasceu na última segunda-feira (5), na maternidade do Hospital Municipal de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, estão sendo interrogados pelo delegado regional de Contagem, Christiano Xavier.
Os presos são do Rio de Janeiro e uma das mulheres, de 32 anos, vinha mantendo contato com a mãe da criança desde dezembro, pelo Facebook, e chegou a depositar dinheiro na conta bancária da mãe do bebê, que permanece internada no hospital, com a criança, sob escolta policial.
De acordo com o aspirante da Polícia Militar, Caio Rezende Coelho, funcionários do hospital desconfiaram de que havia algo errado, como a mãe não levar roupinhas e outros itens para bebê, e também um homem estranho se apresentar como pai da criança na recepção. A assistente social, então, acionou a PM. Segundo o militar, a mãe confessou que pretendia entregar a criança, mas que se arrependeu depois.
“Posteriormente, após o nascimento da criança, a mãe se arrependeu e não quis mais fazer o negócio, acionando a assistência social do hospital, que acionou a Polícia Militar”, disse o PM.
Segundo o hospital, o companheiro da mulher de 32 anos, um lanterneiro de 62 anos, chegou a se identificar como pai da criança na recepção. “Ele tentou ludibriar a assistência social do hospital para tentar levar a criança e registrá-la”, conta o militar.
Ainda de acordo com o PM, apesar do acordo prévio pelo Facebook, a mãe não chega a falar de valores. Diz que recebeu R$ 100 para comprar medicamentos para ela. As declarações da mãe e dos presos apresentam contradições, segundo o policial. Assim que receber alta médica, ela será conduzida à delegacia para prestar depoimento.
A mulher de 32 anos viajou do Rio para Contagem acompanhada do companheiro e de outro casal – um homem de 40 anos e uma mulher de 33.
O homem de 62 anos disse não entender a acusação. Ele conta que vive há três anos com a mulher de 32 anos, que cada um deles tem três filhos de um primeiro relacionamento. Ele conta que a mulher o chamou para viajar para Contagem, dizendo que iria ajudar uma amiga que ela havia conhecido no Facebook e que teve um bebê.
Ela negou que pretendia comprar ou adotar a criança de forma clandestina. Alega que a intenção dela era apenas ajudar a mulher, que não tinha condições financeiras, e que por algumas vezes depositou R$ 100 na conta bancária da mãe da criança, para ela comprar vitaminas, e o último depósito foi de R$ 300, para ela fazer uma ultrassonografia e comprar um remédio.
“Criança não se compra. Não sei de onde tiraram essa ideia maluca que eu pretendia comprar uma criança. Se eu fazia tratamento para não ter mais filho, porque eu iria entregar dinheiro para ter uma criança, se eu posso ter um filho natural. Só ajudei essa mulher porque ela me procurou”, disse.
Segundo ela, o primeiro contato da mãe do bebê com ela foi pelo Facebook, mas que não sabe como ela a encontrou nas redes sociais. “Talvez a gente tenha algum amigo em comum ou pode ser algum grupo que eu participava. Conversei com ela pela primeira vez em outubro do ano passado. Ela alegou que não tinha condições de ficar com a criança e eu disse que eu iria ajudá-la no que eu podia”, disse ela, que trabalha tomando conta de crianças na casa dela, no Rio.
O marido da acusada negou que tenha se apresentado como pai do bebê na recepção da maternidade. Ele disse ter sido chamado pela mulher para ajudar uma amiga dela que teve em bebê em Contagem. “Já tenho filhos criados e não quero saber de adoção”, disse.
O outro casal também disse que só queria ajudar a mãe do bebê. O motorista afirmou que ofereceu o carro dele para a viagem e que iria cobrar apenas o valor do combustível. “A minha mulher me pediu para ajudar uma amiga dela. Ela veio comigo para eu não viajar com um casal que eu nem conhecia. No meio do caminho, fiquei sabendo desse boato que está acontecendo, ajudar uma menina aqui. E quando vi, eu já estava aqui”, disse.
A mulher do motorista contou a mesma versão. “Conheci em um grupo de doações no WhatsApp chamado Troca e Venda, Desapego São Gonçalo. Ela me chamou para ajudar uma amiga dela que tinha ganhado nenê em Minas. Eu falei que não podia e ela falou que bancaria a despesa da viagem. Meu esposo concordou em viajar no carro dele e viemos”, conta a mulher. “Eu não sabia dessa história de negociação de bebê”, garantiu.
PENALIDADES
Todos os envolvidos foram enquadrados no artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que prevê prisão de um a quatro anos e multa para quem prometer ou efetivar a entrega de filho a terceiro, mediante pagamento, e também para quem oferecer a remuneração ou recompensa.
SUSPEITA
O diretor do Complexo Hospitalar de Contagem, João Pedro Machado, conta que a mãe do recém-nascido chegou sozinha em trabalho de parto e a criança nasceu saudável. “Ela foi para o leito, em alojamento conjunto, e a equipe começou a estranhar um pouco por ela não chegar com roupinhas e outros itens para criança”, conta o médico.
No dia seguinte, ele conta um homem se apresentou na recepção como pai da criança e querendo informações sobre o parto. “Aí, já soou estranho, pois o pai geralmente está junto da mãe durante o parto e fica com ela no quarto. A assistente social já achou um pouco estranho e conversou com a mãe junto com uma psicóloga. A mãe começou a relatar e confessar que ela queria doar a criança, mas que havia se arrependido”, disse Machado. O caso foi levado à diretoria do hospital, que mandou acionar a polícia e bloquear a entrada de qualquer visita para a paciente.
A PM, segundo o médico, conversou com as pessoas que se identificaram como parentes da mulher e estranharam a versão deles.
DOAÇÃO
De acordo com o médico, quando uma mãe manifesta desejo de doar a criança no hospital, a assistente social encaminha o caso para o Conselho Tutelar e outras instituições, como Ministério Público e Vara da Infância e da Juventude. “Mas, esse último caso foi de cunho policial”, comentou.
Segundo Machado, as funcionárias do hospital foram rápidas na identificação de uma situação atípica. “Informaram rápido a diretoria, que acionou a Polícia Militar, que também foi muito rápida. As duas instituições trabalharam muito célere e conseguiram proteger a vida da criança”, comentou o diretor, que diz prezar pela segurança dos pacientes e funcionários do complexo hospitalar, inclusive com instalação de novas câmeras de segurança e portarias.