Os administradores das páginas que aliciam jovens para participar do desafio Baleia Azul, no qual as vítimas são orientadas a realizar 50 atividades entre as quais mutilações pelo corpo, até chegar ao suicídio, podem estar ligados a uma rede de pedofilia.
A afirmação foi feita pela delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e uma das responsáveis pela investigação que culminou na operação Aquarius, realizada ontem em nove estados do país para cumprir 24 mandados de busca e apreensão e um de prisão temporária de trinta dias. Um dos acusados de ser aliciador no esquema, identificado como Matheus Moura da Silva, de 23 anos, foi preso em casa, em Nova Iguaçu.
No imóvel do suspeito, que seria curador do desafio (administrador da página que recruta os participantes), foram apreendidos celulares e computadores, que podem revelar novas vítimas e suspeitos de atuarem no grupo. Um adolescente acusado de pertencer ao esquema de aliciamento foi detido em São Paulo. Em seu depoimento, o acusado teria dito que existem pelo menos outros cinco criminosos agindo no Rio.
A polícia já teria pedido a prisão dos suspeitos, mas os nomes não foram divulgados e a informação sobre os mandados de prisão não foi confirmada pela corporação. Segundo a delegada Fernanda Fernandes, Matheus confessou ter aliciado pelo menos 30 vítimas, com idades entre 9 e 15 anos.
No entanto, a polícia afirma ter provas que 40 jovens participaram do desafio. “Há indícios de que os curadores pedem para as vítimas fotografarem suas partes íntimas para vender o material”, alertou Fernandes. De acordo com a investigação, uma menina chegou a desenhar, com objeto cortante, uma baleia, o símbolo do desafio, em suas partes íntimas.
O trabalho da DRCI começou no início do ano através de buscas feitas em redes sociais para localizar possíveis vítimas e aliciadores. De acordo com o inquérito, para ter acesso aos grupos, as vítimas pediam para entrar em páginas do Facebook relacionadas ao desafio Baleia Azul, e logo em seguida passavam por uma “entrevista” feita por um dos curadores. Os jovens só conseguiam acessar as páginas após fornecer dados pessoais e oferecer garantias de que não abandonariam o desafio sem concluir as 50 etapas.
A delegada alertou que as principais vítimas dos aliciadores são jovens que demonstram fragilidade emocional e que precisam de apoio psicológico. “Se a criança não sofria distúrbios, depois de entrar no jogo certamente vai passar a apresentar sinais de depressão”, afirmou Fernandes.
Estudantes com sinais de mutilação
De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, as prefeituras de Petrópolis e Duque de Caxias chegaram a enviar relatos de estudantes que chegavam às escolas com sinais de mutilação. “Não temos nenhum relato de suicídio ou de jovem que saiu do jogo e sofreu represália. Os curadores fazem ameaças, mas as vítimas conseguem sair. Os pais precisam ficar atentos e informar à polícia caso perceba alguma alteração no comportamento dos filhos”, aconselhou Fernandes.
A psiquiatra Alexandrina Meleiro explicou que os pais precisam estar próximos dos filhos e verificar se eles estão apresentando mudanças comportamentais como tristeza, isolamento, insônia, depressão ou se estão abrindo mão de realizar atividades com amigos.
“É preciso conversar sem nenhum tipo de censura para saber se o filho está envolvido no desafio da Baleia Azul. Caso confirme a participação, é preciso demonstrar tranquilidade e dizer ao filho que é possível sair do desafio e que irão fazer isso juntos. Mostrar afeto e compreensão é fundamental”, ressaltou Meleiro, que faz parte da Comissão de Estudo e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.