As mãos trêmulas, o olhar vazio e o choro contido denunciam o terror de conhecer cedo demais até onde a maldade humana pode chegar. Aos 10 anos, a “menina-sorriso” do condomínio e ao menos cinco colegas convivem com a dor de terem sido abusadas por anos pelo pai da melhor amiga, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. Até há pouco tempo conhecido pelos vizinhos como exemplo de pai, marido e cidadão, o vigilante Sebastião Souza de Paula, 52, foi indiciado por abusar sexualmente de meninas de 8 a 12 anos no condomínio onde morava. Ele está foragido.
“A filha dele era minha melhor amiga. A gente fazia para casa juntas, e aí ele mostrava vídeos de mulher pelada e homem também. Ele lambia a gente em algumas partes, mostrava a parte genital dele e tocava na gente, enfiava um pouquinho. Ele enforcava a gente e falava que, se a gente contasse para alguém, ia nos matar”, relatou a menina de 10 anos.
Os abusos foram descobertos pelas famílias há cerca de dois meses, quando uma denúncia foi feita, e a Polícia Civil começou a investigar. O caso agora está na Justiça, sob sigilo, mas, segundo fontes da polícia, um mandado de prisão foi expedido, e o suspeito está sendo procurado.
Cena de novela. Assim como em “O Outro Lado do Paraíso”, da Rede Globo, que trouxe a discussão da pedofilia na trama do horário nobre com um delegado que abusava da enteada, em Ribeirão das Neves o suspeito era um dos mais queridos e confiáveis moradores, segundo conhecidos. “Eu nunca ia imaginar que ele poderia abusar da minha neta quando ela ia lá brincar. Não tem explicação. Um pai de família exemplar. Eu não consegui livrar minha neta dele”, afirmou a avó de uma das meninas. O vigilante é casado e tem dois filhos.
A Polícia Civil não informou detalhes do caso, por se tratar de segredo de Justiça. Entre janeiro de 2016 e novembro de 2017, 11.370 meninas entre 0 e 17 anos sofreram crimes contra a dignidade sexual em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública.