Sem camisa e descalço, um médico que fazia plantão no pronto-socorro do Hospital Geral de Cambuquira, município no Sul de Minas, passou – e ainda passa –, por um constrangimento público ao ter sido flagrado, no último sábado, pelo prefeito da cidade, Fabrício dos Santos Simoni (PSL), descansando em uma sala durante horário de atendimento à população. A cena foi toda filmada e agora corre as redes sociais.
O vídeo mostra o prefeito entrando em uma pequena sala do hospital, onde o médico de plantão encontra-se deitado em uma cama, assistindo televisão. Quando vê o prefeito, o médico ainda estende a mão para cumprimentá-lo, mas recebe de volta: “Uai doutor, o senhor está trabalhando hoje? O senhor está trabalhando assim? O povo está cansado de reclamar. Tem gente esperando para ser atendido, o senhor não pode trabalhar assim!”, repreendeu o prefeito de Cambuquira.
O médico, ainda deitado, ainda tenta se explicar. “Eles ainda não me chamaram.” Então ele se levanta, veste o jaleco e pede para conversar com o prefeito, que recusa a conversa e sai cobrando da secretária Municipal de Saúde, Regina de Fátima Lopes, a demissão do médico.
Em entrevista, ontem, o prefeito de Cambuquira, popularmente conhecido por Fabrício da Creusa, contou o motivo de ter feito o vídeo e confirmou a demissão do médico. “Eu estava na missa no sábado pela manhã, quando um senhor passou mal dentro da igreja. Como eu estava de carro, levei esse homem ao pronto-socorro para ser atendido e dei de cara com o médico nessa situação. À tarde, para o azar do médico, fui fazer uma visita e flagrei o doutor na mesma posição. Foi então que chamei uma pessoa para gravar e cobrei a demissão do médico”, explicou o chefe da administração de Cambuquira.
A prefeitura e o Hospital Geral de Cambuquira não souberam informar o nome completo do médico, só identificado como Dr. Cláudio, que trabalha no local há pelos menos 12 anos. Segundo o prefeito, o médico é contratado pelo hospital e não possui vínculo empregatício com a administração municipal. “Só que a prefeitura repassa R$ 95 mil à unidade. Não tenho o poder de mandá-lo embora, porque ele não integra os quadros da prefeitura, mas cobrei, sim, a demissão do médico, o que já deve estar sendo tratado”, afirmou Fabrício da Creusa. O prefeito disse ainda que a repercussão foi positiva e que a população cobra maior fiscalização do serviço público.
Um vereador da cidade, no entanto, disse discordar da atitude do prefeito. De acordo com o parlamentar, o médico, de fato, acumulava reclamações por fumar demais e demorar para atender os pacientes, mas acha que houve exagero do prefeito. “Não tinha ninguém pra ser atendido e, a cada 90 minutos de trabalho, o médico tem direito a dez minutos de descanso”, disse o vereador. O prefeito discorda: “Estão mesmo alegando isso, mas um pronto-socorro não é lugar para trabalhar dessa maneira. Se chega alguém tendo um infarto, até o médico se vestir, o paciente já morreu”, reiterou Fabrício da Creusa, que há mais de dez anos atua como funcionário na área de saúde do município.
Fonte: O TEMPO