Um homem de 26 anos suspeito de liderar uma quadrilha especializada em arrombamentos de casas de médio e alto padrão em Belo Horizonte foi preso ontem. Além dele, a Polícia Civil de Minas Gerais investiga o envolvimento de outras cinco pessoas no esquema, que já arrombou pelo menos 11 casas. Entre os crimes praticados, um deles foi essencial para o início da investigação: o dia que roubaram a casa de um delegado. Somente nos três primeiros deste ano, 30 delitos desse tipo já foram registrados na capital mineira.
O grupo foi identificado após uma atitude do ladrão, que, em dezembro do ano passado, se arrependeu e devolveu objetos furtados na casa de um delegado no Bairro Anchieta, na Região Centro-Sul de BH. O criminoso ainda deixou um bilhete com um pedido de desculpas. “Estou devolvendo tudo que foi levado, não quero problemas. Se soubesse que era casa de polícia, não teria entrado. Me desculpa. Sou sujeito homem, por isso, estou devolvendo”, dizia o texto, escrito à mão em uma folha de papel. Apontado como líder da quadrilha, o suspeito, segundo as investigações, era responsável pelo monitoramento e pela organização da associação criminosa.
Os três primeiros meses de 2023 somam 30 registros de roubos em casas, segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp). Embora alarmantes, os números são menores do que os verificados no mesmo período de 2022, quando as ocorrências chegaram a 48.
Apesar disso, o levantamento para furtos teve aumento em 2023. Em janeiro deste ano, os registros são 36,9% a mais; fevereiro 35,04%; enquanto março foram 5,1% mais ocorrências. Embora sejam crimes parecidos, roubos e furtos são tipificados de formas diferentes no Código Penal Brasileiro. Como explica o pesquisador em segurança pública e advogado criminalista Jorge Tassi. O furto, tipificado no do artigo 155, se caracteriza como uma conduta em que o criminoso não utiliza violência ou ameaça. Enquanto o roubo está no artigo 157 e envolve ambas as práticas.
“O furto acontece, normalmente, mediante arrombamento. Para isso, os proprietários não estão em casa. Já o roubo, geralmente, é quando a pessoa está chegando em casa e é abordada pelo criminoso. Esse é o momento mais crítico, pois a pessoa entra na residência junto com o proprietário”, explica.
Para ele, o aumento nos furtos tem relação com o término da pandemia e a volta às rotinas fora de casa. “Nessa mesma época no ano passado (janeiro, fevereiro e março), estávamos no fim da pandemia e muitos ainda trabalhavam de casa, logo, poderiam ser vítimas de roubo, não de furto. Mas como as pessoas voltaram ao presencial, automaticamente o furto voltou a crescer e a necessidade dos criminosos roubarem diminuiu.
HISTÓRICO DE CRIMES
Em fevereiro, a quadrilha que começa a ser desmantelada invadiu uma casa no Bairro Mangabeiras, também na Região Centro-Sul, e fez um idoso de 86 anos de refém. Segundo a polícia, o homem foi amordaçado com fios de telefone, agredido e ainda recebeu ameaças de morte. Os criminosos levaram R$ 5 mil. O idoso conseguiu pedir socorro por meio de uma pulseira de emergência médica, e um sobrinho foi até a casa dele. Os criminosos fugiram depois que o parente tocou a campainha da casa.
O suspeito chegou a ser preso, mas, em seguida, foi liberado por falta de provas. O mesmo criminoso foi preso em 15 de abril em Esmeraldas, na Grande BH, suspeito de homicídio e ocultação de cadáver. Dois dias depois, após uma audiência de custódia, ele foi libertado.
A quadrilha vinha atuando principalmente nas regiões Centro-Sul, Noroeste e Venda Nova e chegou a realizar pelo menos 11 arrombamentos. Entre os bairros alvos dos criminosos estão Mangabeiras, São Bento, Prado, Padre Eustáquio e Alípio de Melo. Segundo o delegado Emílio Oliveira, os criminosos monitoravam as casas e a rotina dos moradores e procuravam residências vazias. "Eles tocavam a campainha para se certificar de que não tinha ninguém em casa", explica. Os bandidos procuravam roubar objetos de alto valor como joias, relógios e dinheiro. "São pessoas especializadas em arrombamento. Muitas vezes conseguem invadir a casa sem nem danificar a fechadura ou o sistema de segurança das residências", aponta o delegado.
Segundo o especialista Jorge Tassi, há recomendações diferentes para se precaver contra furtos e roubos residenciais. Para evitar furtos vale a pena investir em ferramentas de segurança, como câmaras e alarmes, além de evitar divulgar as rotinas da casa. Contra roubos, a atenção ao entrar e sair de casa é essencial e deve incluir não apenas para que mora no imóvel, mas também pessoas que entram e saem com maior frequência, como parentes, amigos, empregados domésticos e diaristas.
Os primeiros horários da manhã, final da tarde e início da noite exigem cuidado especial. O início da noite “é o pior horário de todos, porque quem pratica o crime está atento e a pessoa está chegando em casa cansada. De madrugada também deve-se ter atenção. É importante colocar luz de presença na porta de casa, isso acaba mostrando quem está no local”, finaliza Tassi.
FIQUE DE OLHO
Confira as recomendações para evitar furtos e roubos residenciais
» Furtos
» Ter ferramentas de tecnologia para proteção do espaço, como câmeras e alarmes
» Não confidenciar às outras pessoas o seu movimento de vida: onde vai, quando está fora de casa
» Ser mais reservado com hábitos: evitar postar rotinas em redes sociais
» Roubos
» Cautela extrema e atenção ao entrar e sair de casa. Inclusive para as pessoas que participam do cotidiano da família (parentes que visitam, diaristas)
» Cuidado especial nos primeiros horários da manhã, final da tarde e início da noite.
Fonte: Jorge Tassi, pesquisador em segurança pública e advogado criminalista Jorge Tassi