Em Lagoa da Prata, na região Centro-Oeste de Minas, recuperandos da Associação de Proteção e Assistência a Condenados (APAC), em parceria com entidades ambientais, têm promovido a recuperação de áreas degradadas. Com o projeto “Recuperar – Recuperando Vidas e a Natureza”, foram cultivadas cerca de 10 mil mudas de plantas nativas da região do cerrado mineiro em um ano.
“Esse projeto nasceu em novembro de 2016”, lembra Carlos Frederico Muchon, técnico em meio ambiente. Ele menciona que, à época, foi procurado pelo Juiz da 1ª Vara de Execução Criminal, Aloysio Libano e por um dos membros fundadores da Associação Ambientalista dos Pescadores Amadores do Alto São Francisco (AAPA), Saulo Castro.
Detalhe: a razão para tal encontro partiu da iniciativa espontânea de um dos recuperandos da entidade de assistência a condenados. Reveston Marcos de Almeida, 40, estava em um presídio comum, em Lagoa da Prata, quando teve oportunidade de uma audiência com o Juiz Aloysio Libano. Então, revelou ter experiência com o cultivo e produção de mudas, dizendo, ainda, ter o desejo de criar um projeto neste sentido.
O magistrado gostou tanto da ideia que quis ampliar seu horizonte, pensando na produção das mudas para fins de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas ou regiões vítimas de crimes ambientais. “Quando, enfim, celebramos a parceria, em janeiro de 2017, o viveiro que era de 30 m² passou a ter 400 m²”, conta Muchon.
Empenho
O ambientalista detalha que as mudas são produzidas pelos recuperandos, são também eles que vão até áreas rurais, industriais e em empresas, principalmente em áreas da região da Bacia do Rio São Francisco, para o plantio das árvores da vegetação nativa da região, prioritariamente, as frutíferas.
“Depois de 30 dias, nós voltamos aos locais atendidos com eles, para efetuar a capina, cultivo, retirar eventuais mudas que tenham morrido…”, aponta Muchon. Passados mais 120 dias, o grupo retorna pela última vez, realizando todos os procedimentos e produzindo relatórios fotográficos de todo o trabalho.
“Começamos oficialmente na segunda metade de janeiro do ano passado. De lá para cá, em coisa de um ano, foram plantadas mais de 10 mil mudas, de cerca de 150 espécies”, avalia Muchon. O recuperando Reveston, que está em vias de conquistar a sua liberdade, comenta que o projeto continuará depois dele. Com orgulho, conta que hoje há mais de 30 colegas empenhados no projeto.
Orgulho
Muchon lembra, ainda, que os recuperandos são remunerados pelo trabalho desenvolvido. Além disso, conseguem a remissão de suas penas. Foi assim que Reveston reduziu pela metade o período que era previsto que permanecesse na APAC.
Para o ambientalista, são motivos de orgulho a recuperação da vegetação nativa e as possibilidades abertas para os recuperandos. “O caju do cerrado era uma planta que estava extinta na região e agora é possível encontrá-la, graças a esse trabalho”, elogia Muchon. “É, também, muito gratificante ver como esses rapazes estão envolvidos com esse projeto. Um deles estava a tanto tempo sem ver o sol que, quando saiu, desabou a chorar”, emociona-se ele.