A prática conhecida como “Fast Track”, que tem agilizado e racionalizado o atendimento na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Odilon Behrens, na região Noroeste da capital, desde janeiro deste ano, já deveria estar implantada em todas as nove UPAs da capital desde abril, segundo promessa da Prefeitura de Belo Horizonte feita no início do ano. Mas, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o serviço só foi parcialmente implantado na UPA Pampulha, e há a previsão de que o Fast Track seja expandido para as UPAs Leste e Venda Nova neste semestre.
Na unidade do Odilon Behrens, o Fast Track (ou “via rápida”, conforme tradução da unidade) foi implantado em 15 de janeiro com objetivo de reduzir o tempo de espera dos pacientes classificados como verdes (pouco urgentes). Antes, a espera média era de três horas e meia. Agora, caiu para aproximadamente duas horas e 16 minutos – uma redução de 36%.
Segundo o superintendente da UPA, o médico Danilo Borges Matias, o Fast Track faz parte de uma filosofia mais abrangente chamada “Lean”, desenvolvida pela fábrica da Toyota na década de 70. “Ela prima pela diminuição do desperdício de tempo, inclusive. Aqui, a gente colocou o nome de “via rápida”, que é exatamente fazer um fluxo diferenciado para aqueles pacientes que demandam uma complexidade de tempo menor”, explica Matias.
Após participar de uma consultoria ministrada pelo Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, a equipe implantou mudanças na UPA. Entre as alterações estão a divisão do espaço e da equipe e uma articulação entre os profissionais. Atualmente, os pacientes classificados como verdes ficam em um local separado e todo sinalizado. Ninguém “se “perde” na unidade procurando pela sala de medicamentos ou pelo consultório. “Isso transformou o clima. O número de ocorrências e de bate-boca reduziu”, ressalta o superintendente.
Além disso, há um painel logo na entrada que informa o tempo de espera atualizado. Os médicos também são divididos por cores. Alguns atendem verdes; outros, amarelos etc. No entanto, a nova filosofia faz com que os profissionais sejam realocados quando sua “área” está tranquila. O fluxo puxado também é novidade. Os médicos e os enfermeiros vão até os pacientes com resultados de exames, e não o contrário. A aposentada Vera Barbosa, 78, nunca havia ido a uma UPA e foi atendida pela primeira vez na última semana no Odilon. Ela aprovou o sistema. “Eu tinha plano de saúde. Chegamos às 11h, e fui atendida às 13h30. Não foi demorado. O médico passou soro e me pediu exame”, conta. A idosa procurou a unidade por causa de uma infecção intestinal. Para os médicos, o trabalho melhorou após a implementação do protocolo. “O paciente chega pra gente mais tranquilo por não ter ficado tantas horas lá fora”, avalia o clínico geral Marco Túlio Castro Coelho.
Cinco hospitais já adotam filosofia
Além da UPA Odilon Behrens, na região Noroeste da capital, outros cinco hospitais pelo Brasil já usam a filosofia Lean para agilizar os atendimentos e combater a superlotação.
De acordo com o Ministério da Saúde, a ferramenta é utilizada nos seguintes centros de saúde: Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira, em Goiânia (GO); Hospital Regional São José, na cidade de mesmo nome (SC); Hospital Geral de Palmas (TO); Hospital de Messejana, em Fortaleza (CE); e Hospital Geral do Grajaú, em São Paulo. Ainda de acordo com o ministério, todas as unidades de saúde atendem 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Para a aposentada Maria Rosa Batista, 72, a implantação da ferramenta na UPA Odilon mudou o atendimento. “Notei diferença, me chamaram mais rápido. Cheguei às 8h e fui atendida em menos de uma hora”, relata Maria, que apresentava quadro de pressão alta.
Saiba mais
Superlotação. As UPAs de Belo Horizonte atendem parte da demanda de outras cidades. Segundo a Secretaria de Saúde da capital, não é pedido comprovante de endereço para o atendimento, e, dos apresentados, cerca de 30% são de outros municípios. A secretaria estima que esse percentual seja ainda maior.
Mais pacientes. A eficiência no serviço da UPA Odilon fez aumentar o índice de atendimento de 10 mil pacientes por mês para quase 12 mil.