Gonçalves dias era um “poeta ardente”. Suas “inspiradas estrofes foram cintilantes pérolas engastadas na coroa que aureola hoje a fronte da nossa pátria.”
A homenagem ao poeta romântico, publicada no jornal “Evolucionista”, em 1883, é assinada por dois nomes estranhos: Penseroso e Ícaro.
O primeiro é o poeta Boaventura Pinto. O segundo é seu amigo Euclydes da Cunha. A descoberta também está na próxima edição da revista “Livro” –e é assinada pelo professor Leopoldo Bernucci, da Universidade da Califórnia em Davis, além do mesmo Felipe Rissato que encontrou os textos de Machado.
Os dois já haviam revelado, em 2015, a carta inédita que provava que Euclydes conseguiu uma vaga na escola naval para o irmão de Dilermando, amante de sua mulher e seu assassino, um ano antes de ser morto.
Até hoje, os únicos pseudônimos de Euclydes conhecidos eram Proudhon e José Dávila, que ele usou para assinar artigos no jornal “O Estado de S. Paulo”.
A prova da autoria é uma carta a Boaventura publicada em outro jornal, o “Espectador”, assinada por Ícaro. Em 1909, no “Annuario Illustrado do Jornal do Brasil”, o mesmo texto é publicado –dessa vez com a assinatura real do autor de “Os Sertões”.
As palavras sobre Gonçalves Dias, a partir de agora, passam a ser consideradas o primeiro texto em prosa que Euclydes publicou. Até hoje, acreditava-se que era a crônica “Em Viagem”, de 1884.
Bernucci e Rissato localizaram ao todo quatro textos de Euclydes. Também no “Evolucionista”, há um poema –assinado como E. Cunha– sobre o inconfidente Cláudio Manuel da Costa. No texto, o autor imagina os pensamentos do poeta preso:
“É bem sinistro o cárcer’ – e como uma ironia/ A toda aquela treva esmagadora e fria/ Uma lâmpada brilha em quase morta luz”.
“Comparando com outros poemas de Euclydes, percebemos o estilo, o tom, as imagens”, diz Bernucci.
Em outro jornal, Penseroso e Ícaro fizeram outra parceria. Euclydes escreve 40 versos do poema “A Infância e o Gênio”, que tinha 156 no total. O texto (“E a primavera despontava ardente/ –Rósea falena lá dos céus fugida”) foi publicado também em 1883, no jornal “Espectador”.
“Ícaro é o personagem conhecido da mitologia grega, mas agora fica a dúvida de por que Euclydes escolheu o nome”, afirma Bernucci.