Por Isabella Lacerda
A mais recente decisão do governo da presidente Dilma Rousseff, de lançar um pacote de ajustes fiscais para tentar controlar a economia, é encarado por movimentos sociais, cientistas políticos e, até integrantes do PT, como uma sinalização de afastamento do governo dos movimentos sociais e das políticas voltadas para os trabalhadores: principal bandeira do partido.
As medidas de austeridade consideradas impopulares, além da forma de condução das questões econômicas pela presidente, geraram uma enxurrada de críticas e abriram “feridas” dentro do próprio PT, que hoje se mostra em “pé de guerra” com Dilma. “A vaca está tossindo, porque ela está mexendo e se afastando das políticas sociais”, garante o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) Antônio Carlos Mazzeo, fazendo referência ao recente embate entre Dilma e sua ex-ministra Marta Suplicy, que acusou a presidente de não cumprir com as promessas de campanha.
Apesar da visível crise interna no partido, lideranças do PT têm preferido manter cautela ao se posicionar sobre as decisões de Dilma. Para o ex-marido de Marta e senador por São Paulo Eduardo Suplicy, é preciso que o partido dê um voto de confiança à presidente. “Ela (Dilma) tem que levar adiante os propósitos dela”, declarou. Já o deputado federal por Minas Gabriel Guimarães acredita que o tamanho do partido contribui para que ocorram divergências. “Cada um tem a sua opinião e pode se expressar. Creio que, nesse momento, a presidente precisa de apoio”, defendeu. Outros membros da direção nacional do PT também foram procurados nesta quinta pela reportagem, mas se recusaram a falar sobre o polêmico assunto.
As críticas de Marta Suplicy são apenas uma peça do quebra-cabeça da crise petista. Tudo começou com o movimento “Volta, Lula”, se agravou com as escolhas de nomes polêmicos para ministros de Estado, e teve como desfecho a publicação de texto pelo também ex-ministro, e condenado no mensalão, do PT José Dirceu, que afirma que o país entrará em recessão (veja arte abaixo).
CUT critica. O secretário geral nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, classifica como “péssimas” as medidas adotadas por Dilma em seu novo mandato. “Dilma se elegeu com o compromisso de avançar no social. Mas ela fez o contrário. Era possível o governo encontrar outras soluções, mas não o fez”, critica o dirigente, que confirma que as centrais sindicais se unirão em novas manifestações contra o governo.
Para o cientista político da Ufop, Antônio Jackson, o risco do descolamento de Dilma do PT é a perda de apoios. “O partido pode fazer qualquer coisa para queimar a presidente e voltar a ter as rédeas do governo. A presidente precisa do PT para governar”, diz. “Essas rusgas internas no PT são fruto de acontecimentos do passado, mas os problemas na economia e as alterações nas regras de acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários geraram essa atual crise”, completa o professor Antônio Mazzeo, da USP.
Chiadeira
Análise. Para o cientista político Antônio Mazzeo, da USP, as medidas que a Dilma está tomando são naturais do projeto econômico que o PT está defendendo, mas parte da militância está reclamando.
Novos fiéis escudeiros
Depois de se desgarrar da imagem do ex-presidente Lula ao tirar de seu governo ministros ligados a ele, a presidente Dilma Rousseff se “armou” com outras figuras políticas do PT, que agora estão com ela no atual governo. A reunião da última terça-feira com os ministros deixou claro quais são os escudeiros de Dilma. Na mesa do encontro, ela estava ao lado dos ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Defesa, Jaques Wagner.