Uma pesquisa em favelas brasileiras revela que 53% dos moradores de comunidades só tem alimentos para até uma semana de confinamento. E apenas 3% teriam alimentos para mais de um mês de quarentena. Mesmo assim, a pesquisa mostra que 71% dos moradores de favelas são a favor do isolamento social como forma de combater o coronavírus.
Kátia Jesus Pereira, de 38 anos, mora com o marido e mais seis filhos na Estrutural, favela do Distrito Federal a cerca de 15 quilômetros da Esplanada dos Ministérios. Ele trabalhava na reciclagem e hoje depende de doações para colocar comida na mesa.
Kátia conta que tem alimento para mais duas semanas e que ainda aguarda a liberação do auxílio emergencial prometido para trabalhadores informais e autônomos. Os dados da pesquisa nas favelas mostram que a maioria, ou 75%, está muito preocupada com a própria saúde e a preocupação com os familiares idosos atinge 87% dessas pessoas.
A pesquisa foi realizada pela Data Favela e pelo Instituto Locomotiva em parceria com a CUFA, a Central Única das Favelas. O presidente do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, avalia que o medo da doença e da fome estão presentes nas comunidades.
A pesquisa mostra que oito em cada 10 moradores de favelas tem muito medo de não conseguir alimentar os filhos durante a pandemia e 82% já viram a renda diminuir por causa da crise. Para o fundador do Data Favela, as políticas de transferência de renda direta podem resolver o impasse.
O levantamento ainda mostra que 82% das pessoas precisaram sair da comunidade para encontrar alimentos ou itens de higiene, pois estão faltando produtos próximos às casas, o que aumenta a circulação de pessoas nas ruas. Além disso, 47% dos moradores de favelas não tem água encanada em casa e 15% relatam não ter sabão.
A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 5 de abril com mil 808 famílias em todos os estados mais o Distrito Federal. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.