A Polícia Civil vai investigar se a queima de um ônibus em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, na madrugada desta quinta-feira (15), pode ter sido um ato de vingança após a morte de um morador da cidade há dois dias. Lidiomar Silva, de 22 anos, foi encontrado desacordado após discutir com um fiscal de coletivo por causa de um frasco de loló, substância entorpecente que mistura basicamente éter e clorofórmio.
A briga ocorreu na madrugada de terça-feira, quando ele, a namorada, a irmão, o cunhado e um amigo retornavam para o município após passarem o Carnaval em Jaboticatubas, também na Grande BH.
“Nós pagamos a passagem e entramos. Meu irmão estava com uma garrafinha de loló, e os seis fiscais que estavam no ônibus não impediram que ele entrasse. Porém, durante o trajeto, um dos fiscais tomou o frasco da mão dele, e houve um desentendimento”, explicou uma irmã, que pediu para não ser identificada.
Já em Santa Luzia, no bairro Kennedy, Silva pediu que o motorista abrisse a porta do meio, onde o fiscal estava. Nesse momento, o jovem pediu novamente a devolução do frasco, e, diante da recusa, agrediu o funcionário.
“Ele deu um tapa no rosto do fiscal, saiu correndo e subiu um morro. Cinco fiscais saíram correndo atrás dele e não vimos mais nada. Os fiscais retornaram e seguimos viagem. Pensei que meu irmão tivesse ido embora, mas só depois ficamos sabendo que ele foi encontrado desmaiado na rua. Ele foi levado para o hospital, mas chegou morto”, afirmou a mulher.
A causa da morte não foi esclarecida, mas, segundo parentes, o médico chegou a mostrar uma lesão que o homem tinha na parte de trás da cabeça. A família ainda busca informação para o que pode ter acontecido depois que o homem saiu do ônibus.
“A gente não sabe o que aconteceu, não quero julgar, mas quando os fiscais retornaram disseram para a minha cunhada que o meu irmão ‘já era’. Não sabemos porque falaram isso, e só depois soubemos da morte, além disso, um desses funcionários estava armado”, disse a irmã.
Queima de ônibus
O corpo de Silva foi sepultado nessa quarta-feira (14). Já nesta quinta, cinco vândalos chegaram à praça Kennedy, na mesma em que o jovem foi visto com vida pela última vez, e abordaram o motorista da linha 4100 (Santa Luzia / Via Kennedy / Terminal Vilarinho). Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, o condutor disse que, mesmo avisando que estava a caminho da garagem, o grupo pulou a roleta, jogou combustível e ateou fogo.
Os homens fugiram e, até o fechamento desta edição, não foram localizados. O motorista não ficou ferido. A família do jovem não descarta que algum conhecido possa ter participado do ato, mas afirma que é contra o vandalismo.
“Nós somos contra isso. A queima de ônibus prejudica outras pessoas, e nada vai trazer meu irmão de volta. Agora, se os fiscais tiverem realmente culpa, queremos que eles paguem na Justiça”, finalizou.
Posicionamentos
Por meio de nota e ligação, a Rodap Transportes Coletivos, responsável pelos ônibus, afirmou que tomou conhecimento do “incidente” entre fiscais e o passageiro e da queima do coletivo. No entanto, a empresa informou que aguardará o resultado das investigações da Polícia Civil.
Em relação à denúncia da irmã do jovens de que um dos fiscais estaria armado, a Rodap alegou que os funcionários são proibidos de portarem arma de fogo durante o horário de trabalho.
Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, a delegada Adriana Rosa, informou que as investigações estão em curso pela Delegacia Especializada de Homicídios de Santa Luzia. Ainda conforme a policial, na data dos fatos, os fiscais não foram identificados, e outros detalhes serão repassados apenas com a finalização das investigações.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informou que a empresa responsável pela linha 5582 ao tomar conhecimento do fato, acionou a polícia e aguarda agora o resultado das investigações sobre o caso. O sindicato reafirmou que os fiscais são proibidos de portar arma de fogo.
Em 2018, um ônibus do sistema metropolitano foi incendiado. Em 2017, foram incendiados 18 veículos do sistema metropolitano de transporte. O prejuízo das queimas de ônibus é integralmente arcado pelas empresas e representa cerca de R$ 400 mil por veículo incendiado – podendo variar conforme o modelo do carro.
Além do ônus às empresas, os atos de vandalismo prejudicam os usuários das linhas afetadas, graças à redução forçada do quadro de horários e até que o ônibus incendiado seja reposto por um novo. A reposição de veículos danificados por novos leva em média 180 dias.