Uma das expectativas para as eleições de 2018 é que fosse marcada pela renovação, com uma enxurrada de novos nomes na política. Até foi. Mas a apuração deste domingo mostrou a eleição de um grande número de militares, juízes e evangélicos. Os empresários ficaram mais uma vez de fora, com uma surpreendente exceção.
Romeu Zema (Novo), dono de uma das maiores redes varejistas do país, a Zema, atropelou os adversários e liderou a votação para o governo de Minas Gerais. Com 43% dos votos válidos, ele vai disputar uma vaga no segundo turno com o senador Antonio Anastasia (PSDB), que teve 29% dos votos válidos. Zema teve uma arrancada final impressionante, quando passou de 10% para pouco mais de 20% das intenções de voto na última semana. Depois, teve nova ascensão nas últimas horas da corrida para alcançar um resultado espetacular.
Defensor do liberalismo, da meritocracia e da mudança na política, Zema não chegou lá graças a nenhuma dessas pautas, que, no conjunto, o mantiveram abaixo dos 10% ao longo de todo o primeiro turno. A subida veio quando Zema declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) e passou a defender nas redes sociais ser a melhor opção para tirar o petista Fernando Pimentel, atual governador, do segundo turno.
Zema tem 53 anos e comanda o grupo Zema, dono de postos de gasolina e de 430 lojas de móveis e de eletrodomésticos sobretudo no interir de Minas Gerais. Declarou patrimônio de 69 milhões de reais à Justiça Eleitoral. Seu grupo empresarial emprega 5.500 pessoas e faturou 4,5 bilhões de reais em 2017.
Entre suas propostas estão a simplificação tributária e uma pauta que pode gerar polêmica: a taxação de dividendos. “Lá fora eles reduziram a contribuição das empresas e aumentaram os impostos sobre dividendos. Se isso for feito aqui, as empresas vão ter mais interesse em reinvestir do que em distribuir dividendos. Essa medida só é ruim para quem é rentista empresarial, não para quem reinveste”, afirmou.
O rei dos grotões
Afastado da presidência desde 2016 e do conselho de administração desde que decidiu se candidatar, neste ano, o empresário-candidato não recebe salário da companhia, apenas dividendos como acionista – ele é dono de 30% do negócio. Para o grupo Zema, qualquer cidade com uma pracinha, um coreto e uma igreja cumpre os pré-requisitos para receber uma nova unidade. O Zema é de Araxá, cidade de 100 000 habitantes no sudoeste mineiro conhecida por suas águas termais e pelas minas de nióbio, metal nobre usado pela indústria siderúrgica.
Mais de 80% das lojas da Eletrozema, sua rede de varejo, ficam em cidades ainda menores, com até 45.000 habitantes, nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Goiás e Bahia.
Em Araxá, a influência da família é tão grande que existe até um museu contando sua história no centro da cidade. O aeroporto municipal foi batizado de Romeu Zema, em homenagem ao avô de Romeu, que morreu em um acidente aéreo. Mas o negócio mais promissor da família é a cadeia de lojas de eletrodomésticos.
Há 16 anos, a empresa tinha 46 lojas e vendia 230 milhôes de reais por ano. A expansão, curiosamente, ganhou força no forte crescimento do consumo no segundo governo Lula, quando a empresa começou a abrir mais de 50 lojas por anos.
Para ter sucesso longe dos grandes centros, a Eletrozema desenvolveu uma estratégia única no país. Produtos como acordeões, TVs de tubo e fornos para doceiras, até pouco tempo, seguiam sendo vendidos em suas lojas. Até 2010 muitas unidades não vendiam celulares porque suas cidades tinham sinal muito fraco para os aparelhos. Em cidades menores, a própria empresa faz assistência técnica dos produtos com defeito, já que por lá não há assistência técnica dos fabricantes.
A fase de forte expansão da Zema começou quando Romeu chegou à presidência em 1991. Por décadas, o grupo foi comandado pelo pai de Romeu, Ricardo Zema, que tomou a frente dos negócios aos 14 anos, quando o pai (aquele do aeroporto) morreu em um acidente aéreo. Ricardo é alucinado por automóveis. Tem 47 carros antigos em sua coleção.
As lojas de eletrodomésticos nunca foram sua prioridade e acabaram no grupo por puro acaso. Quando foi comprar uma concessionária da General Motors, na década de 70, o pai de Ricardo acabou levando também uma loja anexa da Frigidaire, marca de eletrodomésticos que pertencia à montadora americana.
Mais recentemente, Romeu concentrou os negócios em postos de gasolina e varejo. Vendeu sete concessionárias, uma fábrica de carroças, farmácias, lojas de material de construção, fábrica de cerâmica, empreiteira e madeireira.
Receio de mudar, portanto, o empresário nunca teve. Para chegar ao segundo turno, ele mudou o discurso do empresário para se bandear para o lado de um populista de direita. Conseguiu tirar o PT, como propagava. A partir desta segunda-feira, o adversário é outro.