O radar meteorológico instalado em Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte, capaz de detectar temporais e chuvas de granizo com antecedência, não está emitindo alertas para as 324 cidades de sua área de abrangência, num raio de 200 km do eixo central. O monitoramento em tempo real poderia ter prevenido a população e evitado estragos durante os temporais que devastaram Caeté, Ribeirão das Neves e outras cidades do entorno nos últimos dias.
O equipamento começou a operar em 2012, com tecnologia de ponta vinda da Finlândia, ao custo de R$ 10,5 milhões, pagos pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O objetivo era justamente alertar as cidades, com pelo menos quatro horas de antecedência, sobre a ocorrências de chuvas fortes e formação de granizo, como ocorreu na última quarta-feira.
Porém, de acordo com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão do governo de Minas responsável por operar a tecnologia, o monitoramento 24 horas foi suspenso “recentemente”, “situação que impede a identificação de eventos extremos com antecedência”.
O motivo da interrupção “momentânea”, segundo o órgão, são alterações na estrutura do Igam e na equipe de meteorologistas do Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge). “Houve uma redução no número de meteorologistas e analistas ambientais, que deixaram o Igam por razões pessoais”, disse o instituto, em nota.
Com isso, os alertas produzidos pelo monitoramento 24 horas não estão sendo enviados para a Defesa Civil Estadual nem para as Defesas Civis Municipais das 324 cidades cadastradas para receber os comunicados. “Não recebemos mais avisos desde o início deste período chuvoso, em outubro. Antes, os avisos chegavam com antecedência, a tempo de avisarmos as cidades e as populações mais vulneráveis”, afirmou um agente da Defesa Civil Estadual, que pediu para não ser identificado.
Caeté, por exemplo, onde 2.000 casas foram danificadas e 200 famílias ficaram desabrigadas na última quarta-feira, não recebeu nenhum aviso. “Quando vem aviso de chuva forte, conseguimos nos planejar e avisar a população, que toma mais cuidado de não parar o carro embaixo de árvores e proteger os telhados”, disse o secretário Municipal de Obras e Defesa Civil, Júlio César Batista.
Belo Horizonte é a única da área de abrangência do radar que emite alertas. Isso porque a Defesa Civil Municipal analisa as imagens que chegam do equipamento e faz seus avisos com até um dia de antecedência. (Com Aline Diniz)
Fim de vida
Risco. Velho e sem manutenção por falta de recursos, o supercomputador Tupã, que faz a previsão do tempo para todo o Brasil, pode parar e deixar o país sem o serviço a qualquer momento.
Site tem dados desatualizados
O Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge), programa desenvolvido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), publica diariamente em seu site (www.simge.mg.gov.br) a previsão do tempo para os próximos três dias e coloca avisos especiais quando tem previsão de ocorrência de chuvas mais fortes. No entanto, o último comunicado foi de chuva forte entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro deste ano.
O próprio Igam admite que a informação divulgada no site é insuficiente para preparar os municípios. “Essa informação auxilia as Defesas Civis municipais em termos de expectativas de precipitações. São previsões que abordam a possibilidade de ocorrer certos eventos e intensidade, mas não tem a assertividade do monitoramento”, explicou, em nota.
O site do Simge deveria trazer, ainda, boletins diários com informações mais detalhadas, previsões para o dia seguinte, para as próximas 48 horas e para os sete dias seguintes. Mas o último documento foi publicado no dia 24 de março.
O Igam não deu uma previsão de quando a situação será regularizada, mas informou que é parceiro da Cemig na operação do radar e que os equipamentos estão funcionando normalmente, com “raras interrupções” por motivos de manutenção ou falta de energia, embora sem que os alertas cheguem à população.
O que diz a Cemig
Convênio. Sobre a falta de monitoramento constante no radar meteorológico, a companhia declarou que essa responsabilidade é do Igam, com o qual firmou convênio desde o início das operações do aparelho, em janeiro de 2012.
Energia. A respeito da falta de energia em vários lugares por conta da chuva dos últimos dias, a Cemig garante que não há cidades sem luz, apenas alguns pontos específicos de Ribeirão das Neves e Pedro Leopoldo, com poucos clientes desligados.