Um medicamento usado para o tratamento de hepatite C, aprovado desde 2015 no Brasil, é agora a esperança para os pacientes com febre amarela – doença aguda e sem tratamento específico – em Minas Gerais e em São Paulo, onde começou a ser testado neste mês de forma experimental.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmou, por meio de nota, que adotou o procedimento no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, onde está fazendo o uso do medicamento em alguns pacientes internados. No entanto, o governo não deu detalhes sobre os pacientes, quando começaram os testes e a previsão de duração.
Até então, o tratamento usado para os pacientes contaminados e que desenvolviam a forma grave da doença era o transplante de fígado. Porém, essa é uma alternativa de alto risco. Em São Paulo, até o momento, já foram realizados seis transplantes de fígado em pacientes com a doença e um deles, de Campinas, morreu.
A utilização do sofosbuvir (nome comercial Sovald) no tratamento da febre amarela será estudada por pesquisadores dos dois Estados. “Percebeu-se que o vírus da febre amarela é do mesmo grupo do vírus da hepatite C, que se beneficiou muito com o tratamento. A primeira possibilidade foi avaliar se era possível fazer a mesma coisa com o vírus da febre amarela”, explica o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip.
Na análise do médico hepatologista Rogério Alves, da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), nesse primeiro momento, os pesquisadores devem se concentrar em verificar se a medicação é efetiva contra o vírus da febre amarela e o seu mecanismo de ação. “O vírus é parecido, os resultados preliminares parecem interessantes, mas ainda não tem nada científico. É uma tentativa quase que desesperada”, afirmou.
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, também envolvido nos estudos, e o laboratório Gilead, responsável pelo medicamento no país, foram procurados pela reportagem, mas não quiseram se manifestar. (Com Agências)
Zika. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado em 2017 mostrou que o antiviral sofosbuvir também possui ação contra o zika vírus.
Uso do remédio foi adotado por meio de tratamento compassivo
Nesta fase inicial, o medicamento está sendo usado no tratamento da febre amarela por meio do uso compassivo – quando o uso de um remédio com indicação para um tipo de doença, após análise médica e autorização dos familiares, é empregado em outra doença, como método alternativo.
O secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip, disse que todas as etapas e protocolos serão respeitados, como os testes e a análise pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
No entanto, o uso de drogas no modelo de uso compassivo deve passar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E, de acordo com o órgão, até o momento, “não houve qualquer solicitação do uso do sofosbuvir para tratamento de febre amarela”.