A partir de março, os caminhões não serão mais vistos no Anel Rodoviário de Belo Horizonte em horário a ser definido. O prefeito Alexandre Kalil (PHS) saiu nesta quarta-feira (10) do gabinete do Ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, em Brasília, com a garantia de que o projeto sairia do papel neste prazo.
As mortes e tragédias que a capital assistiu na via nos últimos anos quase sempre tinham caminhões e carretas envolvidos, que apresentaram problemas mecânicos e arrastaram carros, levando vidas. “Os planos estão sendo desenvolvidos, e já asseguramos a proibição do tráfego pesado até no máximo a partir de março deste ano”, disse Kalil em entrevista a O TEMPO. Até então, não foi apresentada, porém, nenhuma alternativa viável aos caminhões que circulam diariamente pela via, conforme o sindicato da categoria.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), presente na reunião, irá participar de um estudo para o desenvolvimento de um projeto com os horários da restrição. Nos trabalhos também estarão envolvidos as polícias Rodoviária Federal (PRF) e Militar Rodoviária (PMRv), Via 040, Agência Nacional de Transportes Terrestres e prefeitura.
Já outras promessas antigas e esperadas pelos belo-horizontinos, como a reforma do Anel ainda terão que ser fruto de novas negociações. “Não resolvemos o problema viário do Anel, mas resolvemos o problema de vidas. Vamos acabar com a matança, essa era a minha preocupação. Não dá para virar o rosto para o que acontece há 50 anos”, afirmou o prefeito, pouco depois de soltar um tuíte com a novidade.
O horário da proibição desses veículos pesados ainda não está definido. Por dia, circulam cerca de 160 mil veículos por alguns trechos do Anel, como nas proximidades da avenida Amazonas. Com o crescimento da cidade, a via se tornou urbana, com estreitamento de pistas e problemas estruturais graves, em que o convívio diário com os caminhões é arriscado.
Na discussão existe a possibilidade de estabelecer a restrição em horário de pico, principalmente no final da tarde e início da noite, quando acontece a maior parte dos acidentes por causa da retenção dos veículos.
Estopim. Em setembro passado, uma carreta desgovernada atingiu oito veículos e pegou fogo, matando três pessoas e deixando 11 feridas, na altura do bairro Betânia, na região Oeste – trecho de muitas tragédias. Nos dias seguintes, o prefeito Kalil prometeu tomar medidas urgentes para “acabar com a matança”, entre elas a restrição dos caminhões, que deve ocorrer seis meses depois desse acidente.
O engenheiro especialista em Engenharia de Transporte e Trânsito Márcio Aguiar lembra que esse projeto é um paliativo. “Não vai resolver o problema do Anel, mas pode reduzir acidentes e congestionamentos”, disse. Ele pondera que o Dnit não tem estrutura técnica para fazer esse estudo.
Em nota, o Dnit informou que o diretor de Planejamento e Pesquisa, André Martins, e o Superintendente Regional de Minas Gerais, Fabiano Martins Cunha, vão acompanhar o grupo de trabalho que definirá as restrições para os veículos pesados e verificará “os reflexos no trecho sob sua administração”. (Com Ailton do Vale e Aline Diniz)
Setor de transportes já prevê prejuízos e desabastecimento
Se a promessa de restrição de veículos pesados no Anel Rodoviário for cumprida, o sindicato e a federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg e Fetcemg) acredita que haverá prejuízo para o setor e desabastecimento de produtos na capital e na região metropolitana.
“A restrição não resolve o problema de acidentes e é tecnicamente inviável porque não há rotas alternativas. O grande problema de mortes na via são os atropelamentos de pedestres. Os caminhões representam 12% dos óbitos”, afirmou o assessor técnico das entidades, Luciano Medrado.
O engenheiro Márcio Aguiar lembra que é necessário identificar os horários de maior intensidade de trânsito, já que não há opção para os caminhões. “O local de parada desses veículos precisa ser estudado”. (Aline Diniz/Luciene Câmara)
Promessa de verba
Saúde. Ainda em Brasília, o prefeito Alexandre Kalil informou que conseguiu também a promessa do presidente Michel Temer de repassar R$ 20 milhões para o Hospital do Barreiro, que, segundo o prefeito, já está lotado e precisando de verba com urgência.