Fruto da união improvável de setores do PT e de partidos como o PSDB e o DEM contra a influência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Rodrigo Maia (DEM-RJ), 46, foi eleito na madrugada desta quinta (14) para a presidência da Câmara dos Deputados, superando um impasse político que se arrastava havia dois meses.
O resultado representa uma grande derrota de Cunha, que renunciou ao cargo na semana passada, dois meses após seu afastamento do cargo pelo Supremo Tribunal Federal. Após o resultado, houve, inclusive, gritos de “fora, Cunha” no plenário.
Maia assume um mandato-tampão de menos de sete meses, até 1º de fevereiro do ano que vem, sem direito à reeleição.
“Sem a esquerda não venceria essas eleições”, disse o novo presidente, que venceu a disputa no segundo turno com 285 votos contra 170 do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), confirmando a tendência de polarização que se desenhou no início da campanha.
PSDB, DEM, PPS e PSB se uniram em torno de Maia, enquanto o “centrão” e a ala do PMDB aliada a Cunha abraçaram o nome de Rosso. Deputados avaliam que os derrotados podem criar dissidências e obstáculos para o governo interino de Michel Temer (PMDB). Há ainda chance de dissolução do “centrão”.
Maia assume um cargo que hoje representa, na prática, a vice-presidência da República. Ele será o primeiro na linha sucessória de Temer.
Ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff e crítico do impeachment da petista, Marcelo Castro (PMDB-PI) se lançou na disputa como uma espécie de terceira via, com o apoio de insatisfeitos do PMDB com o governo Temer e da cúpula do PT, mas perdeu substância quando passou a ser considerado um “inimigo” do Planalto.
Houve ainda uma forte divisão no campo alinhado ao PT, com o lançamento de candidaturas alternativas de Orlando Silva (PCdoB-SP) e Luiz Erundina (PSOL-SP). Esse racha desidratou o apoio a Castro, que teve apenas 70 votos e ficou fora do segundo turno.
A derrota do ex-ministro de Dilma na primeira fase da disputa foi vista como uma vitória de Temer sobre dissidentes de sua base e também sobre a articulação petista, que contou com o aval do ex-presidente Lula.
PLANO B
Com Castro fora da disputa, PC do B, PDT e PR declararam apoio a Maia. O PT liberou a bancada para votar como quisesse, mas, nos bastidores, assegurou que destinaria ao democrata ao menos 30 de seus 58 votos. A decisão veio acompanhada de uma justificativa simples: não havia como apoiar um candidato identificado com Cunha, o principal artífice do impeachment de Dilma.
No último discurso antes da votação, Maia fez referência ao apoio que buscou nos partidos alinhados ao PT. “Fui muito criticado, no início, porque dialogava com a esquerda, mas essa Casa precisa de diálogo”, disse. “Quem não quer oposição quer calar a democracia. Queremos uma oposição forte.”
O Planalto tentou minimizar sua participação na segunda etapa da disputa, centrando esforços para derrotar Castro e, depois, deixando a articulação correr sem grandes interferências.
O PMDB liberou seus deputados para votar como achassem melhor. Tanto Rosso como Maia foram cortejar a bancada. O democrata fez um discurso informal dentro da liderança da sigla e foi cobrado sobre acordo que fez com o PSDB.
Os tucanos decidiram não lançar candidato para o mandato-tampão e apoiar o democrata de olho na promessa que, em 2017, quando haverá nova eleição para o comando da Casa, mas com um mandato de dois anos, haveria uma aliança em torno de um nome escolhido por eles.
“Não vou mentir, tenho um compromisso com o PSDB, mas aqui há deputados com capacidade para construir um caminho também. Nada impede que a gente dialogue”, disse ao PMDB.
Depois do resultado, Maia chorou, agradeceu aos pais e aos partidos que o apoiaram.
No discurso que fez no primeiro turno, Maia disse estar pronto para liderar a Casa num momento de crise. “Estive no centro de todos os acordos parlamentares que tentaram evitar que o Brasil naufragasse.”
No segundo discurso, antes do resultado final, voltou a prometer uma Câmara “soberana”. “Uma Câmara dos Deputados forte, que nos orgulhemos dos atos.”
Destacou mais uma vez sua experiência com cinco mandatos. “Um presidente não defende seus pontos de vista, coordena os trabalhos da Casa e ideias que nascem de cada um de nós.”