O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse nesta segunda-feira (20) que buscará o “combate incansável à corrupção” à frente do cargo, afirmou que a Lava Jato continuará sendo a agenda prioritária da corporação e criticou a disputa institucional de poder entre a PF e o Ministério Público Federal que, na sua visão, apenas beneficia o crime organizado.
Segovia participou na manhã desta segunda-feira da cerimônia de transmissão de cargo, no salão negro do Ministério da Justiça. Prestigiaram a solenidade o presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli.
“Nesse vendaval de dúvidas e questionamentos quanto ao futuro da Polícia Federal, gostaria de reafirmar que a minha postura, como tradição, é de obedecer sempre e estritamente às leis e à Constituição, respeitando os direitos humanos e ao mesmo tempo a independência no cumprimento do meu dever”, discursou Segovia.
O novo diretor-geral da PF disse ter consciência de estar “com os pés no chão” diante dos desafios impostos ao cargo e defendeu a unidade dentro da corporação.
“É nesse espírito de equipe, todos unidos, que buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará sendo a agenda prioritária da Polícia Federal, tendo como premissa a continuidade de operações especiais, tais como a Lava Jato, Cui Bono, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal e nas varas da Justiça”, ressaltou Segovia.
Segovia prometeu combater com o mesmo rigor o crime organizado em suas diversas modalidades, especialmente o tráfico de entorpecentes e de armas. Também afirmou que a PF trabalhará com isenção para garantir a lisura das eleições de 2018.
“Necessitaremos cada vez mais de uma Polícia Federal forte, una e indivisível, com todos os seus servidores, formando um time harmônico, extremamente profissional. Hoje somos mais de 11 mil heróis anônimos que trabalham dia e noite para garantir um Brasil melhor para todos”, afirmou.
Vaidade. O novo diretor-geral da PF também destacou na solenidade que “há hoje uma infeliz e triste situação de uma disputa institucional de poder” entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF).
“Mas confio muito no espírito de maturidade institucional e profissional dos membros dessas instituições, que neste momento têm a oportunidade de escrever um novo capítulo em sua história, deixando de lado a vaidade e a sede de poder, buscando um equilíbrio e entendimento em nossas ações em prol de toda a nação brasileira, pois o único que se beneficia com essa disputa é o crime organizado”, comentou Segovia.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs no Supremo, em abril do ano passado, uma ação pedindo para que seja declarada a inconstitucionalidade do trecho da lei de organizações criminosas que permite ao delegado de polícia firmar acordos.
O Ministério Público Federal sustenta que o acordo pressupõe a participação dos agentes que são parte no processo – o que engloba a instituição, mas não a Polícia Federal. O argumento é de que, como cabe ao MP fazer a denúncia, só o próprio órgão pode negociar os efeitos da acusação.
Expectativa. O imbróglio emperra o andamento de delações já firmadas pela PF, como a colaboração do operador do mensalão Marcos Valério e do marqueteiro Duda Mendonça, feitas sem a participação do MPF.
O acordo de Duda está no gabinete do ministro do STF Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, que só deve deliberar o caso após o plenário do Supremo decidir sobre o assunto.
Em seu discurso, Segovia também agradeceu Temer e o ministro da Justiça, Torquato Jardim, pela sua nomeação.
“Que Deus nos abençoe a todos, nos proteja para buscarmos um Brasil sem corrupção e com justiça a todos os cidadãos”, afirmou o novo diretor-geral da PF. (Rafael Moraes Moura, Carla Araújo e Fabio Serapião)