FolhaPress
Empossado como superministro e tido como reserva moral do governo Jair Bolsonaro (PSL), Sergio Moro (Justiça) vai ao Senado nesta quarta-feira (19) em seu momento de maior fragilidade.
A partir das 9h, no plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o ex-juiz da Operação Lava Jato deve atacar a ação de hackers, dizer que não tem como confirmar o conteúdo das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e afirmar que as conversas podem ter sido editadas.
A linha é a mesma que o ministro de Bolsonaro tem utilizado desde as primeiras reportagens sobre o caso —e será mantida nos esclarecimentos que prestará aos senadores.
Mensagens divulgadas no domingo (9) indicaram a troca de colaborações na Lava Lato entre Moro e o procurador chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol.
Nesta terça (18), na véspera do depoimento do ex-juiz, o site The Intercept Brasil divulgou novas conversas atribuídas aos dois que podem reforçar os questionamentos de senadores sobre a parcialidade do Moro —em um trecho, ele cita a preocupação de uma investigação melindrar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Após ser anunciado como um dos principais nomes do novo governo, o ex-juiz acumulou derrotas em menos de seis meses mandato. Sob desgaste devido à divulgação de mensagens do período da Lava Jato, ainda teve que aguardar a cautela de Bolsonaro em defendê-lo abertamente.
O presidente chegou a manter silêncio por três dias e, no último sábado (15), embora tenha defendido o legado de Moro, afirmou que não existe confiança 100%. “Meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe”, disse Bolsonaro.
No Senado, Moro deve defender as comunicações informais entre magistrados e procuradores, dizendo ser algo que sempre ocorreu em todos os processos e investigações. Ele afirma que as conversas também eram comuns com advogados e policiais.
A iniciativa de comparecer em audiência na Casa foi do próprio ministro, para tentar esfriar o plano de senadores de criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as conversas com Deltan.
O proponente da comissão, senador Angelo Coronel (PSD-BA), parou de coletar assinaturas, mas disse não descartar retomar o trabalho.
Nos últimos dias, Moro tem tentado usar a estratégia de não confirmar a veracidade das conversas —embora também não as negue— e, ao mesmo tempo, criminalizar o ataque de hackers.
O site disse ter tido acesso às mensagens por uma fonte anônima. Procuradores da Lava Jato tiveram celulares hackeados.
A Polícia Federal avalia que o material divulgado até o momento deve ter sido obtido do aparelho de Deltan.
Moro vai dizer a senadores que não tem como checar se as mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil são verídicas e nem tem como fazer perícia em seu celular, porque não utilizava o Telegram havia pelo menos dois anos.
Até agora, investigações dão conta de que a invasão foi neste aplicativo de mensagens.
De 9 de junho até agora, o ministro derrapou em seu discurso uma vez, na última sexta-feira (14), quando disse que houve um descuido por ter repassado informações a Deltan por celular, sem formalizar nos autos.
Ele respondia, no momento, a uma pergunta sobre uma das reportagens que mostrou mensagens de Moro dando dicas para o procurador sobre uma fonte que teria interesse em denunciar crimes do ex-presidente Lula.
Ao dizer que foi descuido, o ex-juiz acabou confirmando o diálogo, indo na contramão da sua estratégia de defesa.
Governo e oposição faziam reuniões com seus grupos na noite desta terça-feira (18) para afinar a estratégia que adotarão na sessão do Senado.
Enquanto aliados de Bolsonaro tentarão conduzir um debate no campo jurídico, a oposição quer promover uma discussão política.