Não bastasse definhar com a passagem do tempo, a abrasão das chuvas, ventos e temperaturas congelantes, a estátua de Juquinha, além de precisar de restauração imediata, sofreu um ataque de vândalos. As costas da imagem, que é um dos símbolos da Serra do Cipó, a 117 quilômetros de Belo Horizonte, em Santana do Riacho, foi riscada por canetão rocho, tendo sofrido também o mesmo tipo de vandalismo as pedras do calçamento no caminho para o monumento e a portaria de entrada para o restaurante que funciona ao lado.
Como a reportagem do Estado de Minas mostrou no último dia 10/6, a estátua erguida em 1987 está extremamente degradada e precisa de passar por um complexo processo de restauração. Há projetos para esse restauro, mas ainda não se tem parceiros oficialmente para custear o processo.
A escultura de Juquinha já perdeu o dedão da mão direita; uma fenda se abriu em uma das pernas, enquanto as beiradas do chapéu se quebraram. Nos braços, há buracos com mais de um dedo de largura e profundidade. O paletó também exibe avarias e trincas. A superfície da obra de arte está tomada por trincas e rachaduras. Em algumas partes dos braços e pernas, os vergalhões de aço que dão forma à estrutura já estão expostos e enferrujando.
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O ataque de vandalismo contra esse patrimônio da Serra do Cipó que, com seu sorriso convidativo posa ao lado de turistas como uma lembrança de uma das mais belas paisagens mineiras, se deu no dia 17/6, segundo o administrador do restaurante que funciona ao lado da estátua, Dilceu Moreira da Silva.
"Fechei o restaurante na noite de sábado. No domingo de manhã já estava tudo pichado. O que leva uma pessoa a interferir de própósito em um símbolo de liberdade e de bondade como o Juquinha? É por isso que essa obra tinha de ser melhor protegida, mas a verdade é que a abandonaram", protesta o administrador.
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Os morros cortados pela rodovia MG-010, onde fica a estátua, são chamados de Alto Palácio e, apesar de o restaurante ter construído um portão e uma porta de metal, o acesso ao Juquinha sempre fica aberto, sendo constante o acesso de turistas, viajantes e de pessoas que querem se aproximar e admirar a serra ao lado da figura do ermitão.
"É um ataque de muitos que ainda virão se nada for feito pelo Juquinha. Do jeito que está, sem qualquer auxílio do poder público, o Juquinha ficou vulnerável, ao Deus dará", critica a artista plástica que criou a estátua, Virgínia Ferreira. "Fico mesmo angustiada de saber que tantas pessoas se inspiram com o Juquinha, que se sensibilizam com a mensagem dele de proteção da natureza, mas que pouca gente age em sua defesa", ciritca Ferreira.
Mesmo com o ataque à sua obra mais conhecida, a artista plástica ainda consegue tirar uma lição de humildade muito própria do espírito do Juquinha. "As pessoas que, por um motivo ou outro, picham o Juquinha, sempre o fazem nas costas dele. Acho que até elas, quando olham para o Juquinha, se comovem e não têm a covardia de sujar o rosto dele e agredir a sua mensagem de simplicidade", afirma Virgínia Ferreira.
Atualmente, Virgínia tem um projeto de restauração aprovado em dezembro de 2022 na lei federal de incentivo à cultura para o Juquinha, com abatimento em imposto de renda e publicidade paraos futuros parceiros.
A restauração da obra levaria dois meses, com a necessidade de contratação de 15 pessoas. No processo, seria aplicado fungicida, as ferragens deterioradas precisariam ser trocadas, uma recomposição da estrutura e da forma são necessárias, limpeza minuciosa, acabamento e aplicação de proteção.
"É um projeto caro, porque as condições são precárias no local onde fica o Juquinha. É preciso abrir uma tenda, prover hotel ou pensão para as pessoas, transporte, alimentação, gerador de energia elétrica, andaimes e muito mais”, afirma Virgínia.