Em seu mais recente livro, O Pobre de Direita: a Vingança dos Bastardos, o sociólogo Jessé Souza explora o perfil do trabalhador precarizado e humilhado de nossos tempos, utilizando como metáfora o personagem Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix no filme de 2019.
Segundo Souza, essa representação não é uma exceção, mas um retrato perfeito da realidade de milhões de brasileiros que enfrentam a desorientação social e econômica intensificada após o golpe de 2016.
A desorientação desse trabalhador, caracterizada pelo empobrecimento e pela perda de perspectivas, é resultado direto da retomada da exploração financeira por uma elite econômica, especialmente pela apropriação dos ganhos sociais obtidos durante os governos Lula. Salários reais que cresceram, possibilitando educação de melhor qualidade e uma dieta mais saudável, foram subtraídos, agravando a precarização das massas.
Porém, a grande questão levantada pelo sociólogo é: por que essa raiva não é direcionada aos reais causadores do empobrecimento? A resposta, segundo ele, está na construção de narrativas que desviam o foco para bodes expiatórios, alimentando preconceitos e divisões sociais.
A extrema direita e segmentos da pregação evangélica emergem como agentes centrais nesse processo. Ao promover a distinção entre o “pobre honesto” e o “pobre delinquente”, essas correntes oferecem uma válvula de escape moral e emocional para o trabalhador humilhado. A partir dessa lógica, figuras já vulneráveis, como negros, nordestinos, mulheres e pessoas LGBTQIA+, tornam-se alvos fáceis de ódio e violência, enquanto os verdadeiros algozes – os especuladores financeiros e elites econômicas – permanecem ocultos.
O trágico caso do homem que, vestido de Coringa, explodiu uma bomba em Brasília é, para Souza, um reflexo dessa dinâmica. Para quem vive à margem, um ato extremo como esse pode parecer uma redenção, uma forma de transformar uma existência obscura em algo heroico, mesmo que ilusório.
A análise de Jessé Souza é um chamado à reflexão sobre as condições que perpetuam o ciclo de humilhação e desorientação. Identificar as raízes dessa estrutura opressora é essencial para que as narrativas de ódio e divisão sejam desconstruídas, e a dignidade do trabalhador, restaurada.