Com o aumento de casos de febre amarela em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) da capital alteraram as regras de contraindicação da vacina e liberaram a dose padrão para gestantes e lactantes. Idosos, que antes precisavam de atestado médico para se imunizarem, agora também podem receber a autorização de qualquer profissional de saúde, seja enfermeiro, técnico ou auxiliar.
A mudança de protocolo, aliada à desinformação sobre a doença, só faz aumentar as dúvidas e o medo da população. Tudo isso às vésperas de um mutirão de vacinação, que ocorre neste sábado (20) em Belo Horizonte e em ao menos mais cinco cidades das regiões metropolitana, Centro-Oeste e Zona da Mata, onde os casos de mortes confirmadas se concentram.
A alteração das regras foi anunciada na sexta-feira (19) pelas duas pastas, que já repassaram a nova orientação para os centros de saúde. Para as gestantes não imunizadas, a vacina era contraindicada. Aquelas que vivem em áreas de risco precisavam de um médico para avaliar o benefício e o risco de se receber a dose. Mulheres que amamentam bebês com até 6 meses também não podiam se imunizar.
Agora, não há mais a restrição. Gestantes e lactantes precisam apenas passar por avaliação de um profissional de saúde. O mesmo vale para pessoas acima de 60 anos, que antes dependiam de avaliação de um médico e agora também podem contar com o aval de outro profissional de saúde.
“Essa orientação segue determinação do Ministério da Saúde. O objetivo é garantir a imunização da população diante dos casos registrados nos municípios da região metropolitana de Belo Horizonte”, declarou a SMSA em nota. Atualmente, a cobertura vacinal é de 86% em Belo Horizonte e de 82% no Estado, índices abaixo dos 95% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Necessidade. Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, as mudanças não são ideais, mas são necessárias para garantir a imunização diante do surto.
“O que está acontecendo é a falta de capacidade de atendimento médico para essas pessoas. Então, como está causando grande transtorno e se acredita que o benefício seja maior que o risco, fizeram outra opção. Obviamente que não é a situação ideal, porque nem sempre os técnicos têm formação suficiente para filtrar o risco e o não risco. Está sendo uma situação mais contingencial”, afirmou.
São Paulo confirma três mortes no Estado por reação
Três pessoas morreram no Estado de São Paulo por reação à vacina da febre amarela, segundo balanço feito pela Secretaria de Estado da Saúde. As mortes aconteceram no período de um ano, desde janeiro de 2017. Segundo o governo, as vítimas, todas adultas e com menos de 60 anos, não tinham registro de doenças prévias.
As mortes por reação vacinal foram confirmadas após “análises caso a caso”. Um morreu em Perus, na zona Norte da capital, outro em Franco da Rocha (Grande SP) – ambos vacinados em outubro –, e um terceiro morreu em Matão, em fevereiro do ano passado. Outras seis mortes são investigadas pelo governo do Estado.
Pela manhã, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo divulgou que duas pessoas morreram na capital por reação à vacina, e outras três mortes estão sendo investigadas. Um dos casos em investigação seria de uma idosa de 76 anos que, segundo a secretaria, vacinou-se em Ibiúna, na Grande SP, onde possui um sítio, e morreu oito dias depois, no último dia 16, na capital.
A vacina contra a febre amarela é considerada segura, mas pessoas recém-imunizadas podem apresentar reações adversas. Dores no corpo, de cabeça e febre podem afetar entre 2% e 5% das pessoas nos primeiros dias após a vacinação. Reações que podem levar à morte são raras. (Com agências)
Ideal seria procurar um especialista
Diante da mudança de protocolo para vacinação da febre amarela em Belo Horizonte, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) mantém a recomendação para que idosos passem por avaliação de um médico. “O ideal é que sejam avaliados por especialistas, mas nem sempre isso é possível”, declarou o presidente da entidade, José Elias Pinheiro.
Ele afirmou, no entanto, que a SBGG não se opõe à mudança e observa que os profissionais dos centros de saúde estão sendo treinados para avaliar os casos.
Pinheiro explica que o ser humano, à medida que envelhece, tem um enfraquecimento do sistema imunológico, o que aumenta o risco de reação à vacina. “Eles são mais suscetíveis a terem situações adversas, por isso deve ser avaliado se vale o custo-benefício, se a pessoa frequenta áreas de mata etc”, completou.
Saiba mais
Devem se vacinar. Pessoas acima dos 9 meses e que ainda não tenham recebido nenhuma dose, incluindo pessoas acima de 60 anos, gestantes e lactantes. Quem não sabe se já foi vacinado, também deve se imunizar.
Não devem se vacinar. Pessoas com alergia grave ao ovo ou outro componente da vacina, com problemas graves de imunidade, que usam corticoide em doses elevadas ou com doenças como lúpus e artrite reumatoide.