Uma busca pelo nome de Luciane Hoepers no Google leva a resultados que a definem, entre outras designações, como “musa da lavagem de dinheiro”.
O título foi conquistado em 2013, quando a modelo foi presa pela operação Miqueias da Polícia Federal, suspeita de participar de uma quadrilha que lavava dinheiro e desviava recursos de fundos de pensão de servidores municipais de 107 cidades em nove Estados.
Desde então, a má fama potencializada pela internet é seu maior martírio, ela conta. “Eu fui a mais massacrada. Não consigo arrumar trabalho na minha formação, político nenhum me daria um emprego, nem o mercado financeiro”, disse à Folha de S. Paulo.
Formada em administração e pós-graduada em economia, ela quer substituir a pecha de diva do crime por um novo rótulo: o de Miss Bumbum. A moça, loira, alta e de olhos verdes, é representante de Santa Catarina no concurso de 2015.
“Quero mudar essa imagem que as pessoas têm de mim. Eu tenho muito mais a agregar na vida delas, seja pelo incentivo à beleza, à malhação ou mesmo através da minha formação.”
A PASTINHA
Luciane ficou por cinco dias presa em setembro de 2013 com outras seis pessoas suspeitas de participação no crime.
As investigações apontaram que a quadrilha usava mulheres jovens e bonitas, chamadas de “pastinhas”, para cooptar prefeitos para o esquema.
O grupo se especializou em oferecer vantagens indevidas a administradores municipais e gestores de fundos de previdência para garantir aplicações em investimentos arriscados e de rendimento duvidoso, segundo a PF.
Em depoimento pouco depois de receber voz de prisão, a modelo disse à delegada responsável pela investigação, Andrea Pinho, que poderia estampar a capa da “Playboy” como “A Pastinha”. A declaração arrancou gargalhadas dos policiais.
AMOR BANDIDO
Na época em que foi presa, a catarinense namorava o doleiro Fayed Traboulsi, apontado como líder da quadrilha, e conta que negou à polícia e em entrevista concedida ao “Fantástico” (Globo) o pagamento de propina a políticos para proteger o amado.
“Tudo que eu falasse poderia prejudicá-lo. Ele estava preso e o que eu dissesse poderia deixar ele mais tempo lá. Queria defender o Fayed, amava ele demais, tínhamos uma relação de quatro anos e meio. Nunca houve vantagens indevidas aos prefeitos, o que havia era pagamento de propina mesmo”, afirma a modelo, que diz ter mudado seu depoimento à polícia.
Ela nega ter contribuído com o esquema seduzindo prefeitos para fechar acordos fraudulentos. “As meninas eram bonitas, mas isso é prática de mercado. Mulheres bonitas acabam facilitando as conversas. Mas não existia aliciamento, sedução, nada disso.”
‘ESTOU PAGANDO MINHA PENITÊNCIA’
A modelo ainda responde a processo na Justiça pelo caso e chegou a ter bens apreendidos depois de sair da prisão.
Mas o escândalo também lhe rendeu alguns ensaios sensuais e participações em programas de TV. Sem conseguir emprego em sua área, ela passou a explorar a fama que ganhou com a exposição nas páginas policiais.
“Tive que recomeçar minha vida do zero. Estou pagando minha penitência fora da cadeia. Nada me restou além de me dedicar 100% à mídia.”
Para o Miss Bumbum, a confiança é total. “Entre os corpos das candidatas, o meu é o mais malhado, mais sarado”, gaba-se.
No rastro de nomes como o de Andressa Urach (que de vice-Miss Bumbum passou a apresentadora da Record), ela acredita que o concurso poderá lhe abrir portas para trabalhos na TV e na publicidade.
Folha de S. Paulo