O presidente interino Michel Temer (PMDB) fez uma defesa das escolhas de seu ministério, criticadas por repetir o padrão de loteamento entre partidos usual no país, e afirmou que há representatividade feminina em seu governo. Temer falou ao “Fantástico”, da Rede Globo.
Nenhum dos 23 ministros é mulher, mas o peemedebista diz que ao fim da montagem de sua equipe haverá 4 mulheres em posição de destaque –sua chefe de gabinete, a nova secretária nacional de Cultura e em postos na Ciência e Tecnologia e na Cidadania.
Disse ter “falado à sociedade” ao cortar ministérios de 32 para 23 pastas, e minimizou o fato de não ter montado uma Esplanada de “notáveis”.
“Você há de conviver com o Legislativo. Penso que escolhi os melhores nomes, são notáveis politicamente, notáveis administrativamente. Se um ou outro ministro não proceder adequadamente, é claro que ele estará fora”, afirmou.
POPULARIDADE
Temer –que foi alvo de panelaço durante a transmissão de sua entrevista– disse ter noção de que não é um político popular, e que reverterá isso se trouxer “efeito benéfico” ao país. Ao mesmo tempo, admitiu que poderá “ser impopular” por tomar medidas buscando esse fim.
“Eu tenho uma legitimidade constitucional. Fui eleito juntamente com a senhora presidente, os votos que ela recebeu eu também recebi. Reconheço que não tenho essa inserção popular, que só ganharei ou terei se nosso governo trouxer efeito benéfico para o país”, disse.
Segundo o mais recente levantamento do Datafolha, apenas 16% têm uma expectativa positiva da gestão do peemedebista.
Ao negar a condição de candidato a reeleição se for confirmado o afastamento definitivo de Dilma Rousseff (PT) pelo Senado, mesmo tendo titubeado (“é uma hipótese, de repente pode acontecer, mas não é minha intenção”), Temer disse que isso lhe dava “tranquilidade”.
“Posso ser assim até impopular”, numa referência a eventuais medidas mais duras.
Falando sobre sua família, que mudará para Brasília se o Senado depuser constitucionalmente Dilma, Temer afirmou que sua mulher, Marcela, ocupará um função na área social do governo. “Ela é advogada”, disse.
Na entrevista, Temer voltou ao tema do que chama pacificação do país, que pretende ver como legado se assumir em definitivo. Perguntado se isso incluía Dilma e o PT, disse que sim.
“Sou muito atento à institucionalidade do país”, afirmou, lembrando ter citado a necessidade de “respeito à senhora presidente” em seu discurso como interino na quinta-feira (12).
PROGRAMAS SOCIAIS
O presidente interino voltou a defender a manutenção de programas sociais.
“Se for necessário, cortarei de outros setores”, disse, lembrando depois que não pode haver cortes em áreas com vinculação constitucional –como saúde, um dos pontos de mudança defendido pelo programa extraoficial de governo do PMDB, o “Ponte para o Futuro”.
O peemedebista disse que irá manter direitos adquiridos segundo o que a Constituição define. Perguntado se isso não se choca com a sugestão de Henrique Meirelles (Fazenda) pelo estabelecimento de regras de transição na Previdência, disse que “esta matéria não está definida” porque às vezes elas “não ferem direitos”.
“O que não é possível é não fazer nada” sobre a Previdência, disse.
Temer defendeu também medidas simbólicas, “que não demandam orçamento e produzem efeitos”, na área de segurança pública. A área está sob responsabilidade constitucional dos Estados, e o presidente interino disse que seu ministro Alexandre de Moraes (Justiça) irá reunir-se com os secretários para coordenar ações.
LAVA JATO
Voltou a se defender sobre as citações contra si na Lava Jato, que não resultaram em inquéritos, e novamente disse que ser investigado não o impediu de designar ministros na mira da operação. Se o único que enfrenta inquéritos abertos, Romero Jucá (Planejamento), virar réu, “aí vou examinar” o que fazer, disse o interino.
Sobre Lava Jato, repetiu Moraes e disse que não pretende substituir o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Sobre o processo no Tribunal Superior Eleitoral que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, o presidente interino voltou a defender a separação do seu caso do da petista.
Já sobre o aliado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara, Temer recusou fazer comentários quando perguntado se acreditava que uma eventual renúncia do deputado facilitaria a vida do governo. “Um Poder não deve se meter em outro Poder.
O Legislativo faz o que quiser, tanto faz”, disse, afirmando que poderá levar pessoalmente as medidas que pretende encaminhar ao Congresso.