O desenho de composição de governo que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) vem apresentando a aliados para o caso de o afastamento de Dilma Rousseff ser consumado prevê Henrique Meirelles na Fazenda, peemedebistas de seu núcleo mais próximo em postos-chave como a Casa Civil e o Planejamento e aliados como o PP em áreas estratégicas, como a Saúde e a Caixa Econômica.
Temer sinalizou que está disposto a ceder a Meirelles o direito de indicar o presidente do Banco Central se ele de fato assumir a Fazenda.
Na conversa que teve com o vice, no sábado (23), Meirelles disse que aceitaria o cargo desde que participasse da escolha de postos como o BC, o Ministério do Planejamento, a presidência do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica.
Sobre os demais cargos, no entanto, o previsto é que ambos cheguem juntos a um “alinhamento”. Meirelles sinalizou que, se assumir, quer garantir a blindagem da área para evitar “traições”, caso a situação econômica se complique e seja preciso tomar medidas duras.
A preferência por Meirelles se dá porque, na avaliação do vice, ele garantiria, de imediato, recuperação de credibilidade na área econômica, criando as condições para sua equipe aprovar um ajuste fiscal gradual e, com isto, gerar um clima para a retomada de investimentos.
O nome mais citado para a Fazenda após Meirelles é o do senador tucano José Serra (PSDB-SP). Ele esteve com o vice neste domingo (24).
O nome de Serra é defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Além da Fazenda, o senador é cotado para um ministério da área social, provavelmente a Educação.
Ainda segundo apurou a reportagem, Temer pretende colocar Romero Jucá (PMDB) no Planejamento. Hoje, o senador é o principal articulador na formação da equipe de um eventual governo Temer. Outro cotado para a pasta é o presidente da Febraban, Murilo Portugal.
Os planos de Temer, segundo apurado, preveem Eliseu Padilha na Casa Civil e Moreira Franco em um ministério que concentraria temas ligados à infraestrutura. Os dois são peemedebistas com longo histórico ligado ao vice.
Temer também sinalizou a aliados que pretende manter o PP (Partido Progressista) na Integração Nacional e na Caixa Econômica. O partido também pode ficar com a Saúde –o mais cotado para assumir é o deputado Ricardo Barros (PP-PR). Para a Integração, o nome sugerido é Cacá Leão (PP-BA).
FUSÃO
Henrique Eduardo Alves, amigo de Temer, é cotado para a pasta que surgiria da fusão de Esporte com Turismo. Ele foi ministro desta última no governo Dilma, mas saiu dias antes da votação do impeachment na Câmara.
Todos já foram consultados, mas, oficialmente, Temer só fará convites depois da votação do impeachment pelo Senado, prevista para meados de maio.
Ele já avisou, porém, que irá fechar os principais nomes nos bastidores já nos próximos dias, principalmente os da área econômica, para que fechem em conjunto as primeiras medidas.
CRISE
Antes mesmo de assumir, a equipe do vice enfrentou sua primeira crise. No domingo (24), o chefe da equipe de comunicação, Márcio Freitas, pediu para deixar o posto.
Assessor do peemedebista desde o período em que ele foi presidente da Câmara, Freitas colocou o cargo à disposição depois de não ser consultado sobre entrevistas de Temer com a imprensa internacional.
Freitas não foi avisado que o vice falaria nesta segunda-feira (25) com a CNN. A entrevista foi agendada pelo consultor Denis Rosenfield, professor universitário e articulista de jornais.
Chamado inicialmente para elaborar os discursos de Michel Temer, Rosenfield acabou marcando também entrevistas que o peemedebista concedeu na semana passada a veículos estrangeiros, como o “The Wall Street Journal”.
Segundo assessores do vice, a expectativa era que a crise fosse revertida e o assessor, mantido.
Folha de S. Paulo / (JULIO WIZIACK, DAVID FRIEDLANDER, VALDO CRUZ, DANIELA LIMA, GUSTAVO URIBE, LEANDRO COLON E MÔNICA BERGAMO)