Após estudar milhares de casais, o psicólogo Eli Finkel tem uma explicação para o declínio na satisfação das pessoas com seus casamentos: é uma questão de oferta e procura emocional.
Muitas pessoas buscam nos cônjuges o companheirismo e o apoio emocional que antes era fornecido por famílias grandes e instituições locais, como igrejas e clubes.
Ao mesmo tempo, porém, muitos casais estão tão ocupados com os seus empregos e a criação dos filhos que acabam passando menos tempo juntos.O que fazer?
A menos que se queira reduzir a procura, a única solução é aumentar a oferta.
É possível se dedicar mais à satisfação do cônjuge, e Finkel explica como fazer isso em seu novo livro “The All-or-Nothing Marriage” (em tradução livre, “O Tudo ou Nada do Casamento”, ainda sem lançamento previsto no Brasil).
Se isso parecer muito trabalhoso para você, ele também oferece alguns atalhos, aos quais dá o nome de “ferramentas do amor”.
Caso sua agenda não permita uma noite romântica semanal ou férias conjuntas, é possível usar opções testadas com sucesso no laboratório de relacionamentos de Finkel, na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.
Na definição do pesquisador, uma ferramenta do amor é uma técnica comprovada que requer pouco ou nenhum esforço e nem sequer exige cooperação do cônjuge.
“É uma opção curta e grossa que pode custar alguns minutinhos por mês. Não vai resultar em um casamento excelente, mas pode certamente melhorar as coisas. Afinal, o simples fato de o relacionamento sair da lista de prioridades provavelmente irá gerar estagnação ou coisa pior”, diz.
TOQUE O CÔNJUGE
Segurar a mão pode render pontos mesmo quando não se há essa intenção, como demonstrou um experimento com casais que assistiam a um vídeo juntos.
Algumas pessoas foram instruídas a não tocar no companheiro durante o vídeo, enquanto os outros deveriam tocá-lo de “forma positiva, quente e confortável”.
O resultado obtido revelou que quem foi tocado relatou ter mais confiança em ser amado pelo parceiro –mesmo sabendo que as ações do cônjuge eram ditadas pelos pesquisadores.
Seu lado racional sabia que o ato de segurar a mão não era um gesto espontâneo de afeto, mas eles se sentiram melhores mesmo assim.
PRECIPITADOS
Se seu parceiro fizer algo errado –como não ligar de volta– não exagere na interpretação. Pesquisadores concluíram que uma das maiores diferenças entre casais felizes e infelizes é o estilo mais ou menos compreensivo ao explicar a ofensa do outro.
Os casais infelizes costumam atribuir automaticamente algo como um telefonema não retornado a um defeito interno permanente do companheiro (“ele é egoísta demais para se preocupar comigo”) em vez de a uma situação externa temporária, como um dia de trabalho muito puxado.
Quando algo dá errado, antes de tirar conclusões sobre culpa, reserve alguns instantes para pensar em outras explicação possíveis.
Em um experimento realizado em Chicago, nos EUA, ao longo de dois anos, Finkel fez entrevistas periódicas com 120 casais, com perguntas sobre o casamento. Durante o primeiro ano, a satisfação com o casamento caiu.
No começo do segundo ano, um subgrupo desses 120 casais foram instruídos a experimentar algo novo quando estivessem brigando.
“Pense nessa discordância com o cônjuge a partir da perspectiva neutra de um terceiro, que deseja o melhor para todos os envolvidos. Uma pessoa que veja as coisas de um ponto de vista de fora. Como essa pessoa pode pensar no desentendimento? Como pode ver algo de positivo nessa discussão?”
Novamente, esse pequeno exercício fez uma grande diferença. Ao longo do segundo ano, a satisfação marital se estabilizou nesses casais, enquanto continuava a cair no grupo de controle, que não foi instruído a usar a técnica da perspectiva de uma pessoa fora do relacionamento.
GRATIDÃO
Uma vez por semana, anote algumas coisas que o cônjuge fez para “investir no relacionamento”.
Em uma experiência, alguns participantes foram instruídos a fazer isso. Outros participantes deviam listar o que haviam feito para investir na relação.
Aqueles que se elogiaram, logo em seguida se sentiram um pouco mais comprometidos com o relacionamento. Mas os participantes que registraram as contribuições dos companheiros se sentiram muito mais comprometidos -além de, sem surpresas, muito mais gratos em relação aos cônjuges.
ACEITE UM ELOGIO
Um dos fatores mais comuns em casamentos fracassados é a “sensibilidade à rejeição” de um dos parceiros.
Pessoas com autoestima baixa acham difícil acreditar que são amadas de verdade, então costumam deixar de lado o afeto do cônjuge para não serem magoadas pela rejeição que já esperam. Por fim, o pior temor se torna realidade quando o comportamento defensivo acaba afastando a outra pessoa.
Ao testar maneiras de controlar essa ansiedade, pesquisadores solicitaram a pessoas inseguras que relembrassem um elogio específico do parceiro.
Fazer um relato detalhado da situação e do cumprimento não tiveram qualquer efeito, aparentemente porque os inseguros poderiam considerá-lo uma aberração da sorte.
Entretanto, houve um efeito notável quando as pessoas foram convidadas a pensar no elogio de forma abstrata. “Explique por que seu parceiro o admirou. Descreva o que significou a você e seu significado no relacionamento.” Esse exercício ajudou a entender por que o parceiro poderia gostar mesmo deles.
PEQUENAS VITÓRIAS
Quando o cônjuge contar algo que deu certo no seu dia, mostre-se empolgado. Faça perguntas para que ele conte mais a respeito. Injete entusiasmo na voz. Pesquisadores chamam isso de “tentativa de capitalização”.
Quando pesquisadores estudaram casais que aprenderam a usar essas técnicas nas conversas noturnas, revelou-se que os parceiros se deliciavam mais com suas vitórias e os dois terminavam se mais próximos. Ao compartilhar a alegria, todos saem ganhando –e, fazendo o papel de uma eficaz ferramenta do amor, não demora nada.
JOHN TIERNEY
DO “NEW YORK TIMES”