Em carreira solo desde 2013, Thiago Servo, que participava da dupla Thaeme e Thiago, se transformou em um pesadelo para os contratantes de show de música sertaneja. Nos últimos meses, o cantor simplesmente começou a não comparecer às apresentações.
Além disso, Thiago tem histórico de arranjar problemas por onde passa. Bebedeiras, calotes em hotéis e empresas de locação de aeronaves e falta de pontualidade estão entre as reclamações das fontes ouvidas pela reportagem.
Thiago Servo deixou de comparecer até mesmo a shows em que o cachê já havia sido pago com antecedência. Luiz Carlos, contratante de shows de Minas Gerais, confirma que foi lesado em mais de R$ 20 mil pelo adiantamento integral do cachê de dois shows do cantor, que seriam realizados no fim de 2014 nas cidades de Ipatinga e Governador Valadares.
— Ele cobrou R$ 10 mil por show. Paguei o cachê antes e ele simplesmente sumiu. Eu já tinha contratado uma banda para acompanhá-lo nas apresentações e tive que cancelar tudo. Na minha região, quem ficou com fama de mau profissional fui eu. Por isso vou processá-lo por danos materiais e também morais.
Jan Lacrosse, gerente da boate Monalisa, em Governo Valadares, confirma a ausência do cantor numa das casas mais populares da cidade.
— O contrato foi todo seguido à risca por nós, mas ele apenas desprezou o combinado.
Desatualizada desde maio de 2014, a página do cantor no Facebook reúne reclamações de vários profissionais do meio sertanejo sobre a falta de cumprimento de contratos por parte de Thiago.
Em 28 de março, o músico repetiu a atitude e não apareceu para se apresentar no Tam Tam Bar, em Boituva, interior de São Paulo. Sidney Doi, dono da casa, explica que o maior prejuízo foi por conta do dinheiro investido na divulgação do show, já que ele adiantou apenas 10% do cachê para o músico.
— Ele nunca estava disponível para assinar o contrato. Sem a assinatura, não concordei em repassar o dinheiro. Ele me ligava todo dia, cada vez de um número diferente, solicitando o depósito. Quando eu precisava falar com ele, o celular não era atendido. É uma pessoa incomunicável. Então resolvi não ceder às pressões até que ele assumisse o compromisso. Foi a melhor coisa que fiz.
Mesmo sem contrato assinado, o show continuou agendado. Mas na noite de 28 de março, Thiago mandou alguns vídeos para Sidney avisando que se atrasaria para apresentação. O arquivo foi exibido no telão do local para acalmar os ânimos do público. Porém, o cantor não apareceu em Boituva naquela noite. Segundo o dono do Tam Tam Bar, Thiago parecia alterado nas imagens enviadas por WhatsApp. Para Sidney, Thiago sequer estava na região.
— Não sei onde ele estava. Talvez em Sorocaba, onde ficou hospedado por uma semana e deu um calote de R$ 4 mil em hotel. Vou processá-lo por danos morais e materiais. Já levantamos todos os dados dele. O cara é reincidente. Já são mais de seis shows que ele não vai e ainda embolsa o dinheiro.
Para compensar os fãs do cantor que foram até a casa de show, Sidney liberou o bar e ainda deu entrada vip para a semana seguinte. Quem não aceitou essa contrapartida, teve o ingresso ressarcido.
— Sorte que a cidade é pacífica e todo mundo me conhece. Em uma capital, teriam quebrado minha boate.
Procurado pela reportagem em vários números de celular, Thiago não foi encontrado para se posicionar sobre as acusações. Segundo um produtor de música sertaneja que não quis se identificar, o paradeiro do músico é incerto. “Ninguém sabe em qual lugar ele mora na atualidade”, disse.
Sidney comentou que, nas negociações para contratar o show, Thiago se mostrava paranoico e dizia que estava sendo ameaçado de morte. As ameças poderiam estar relacionadas com o pai do cantor, Nilton Cezar Servo, que morreu em fevereiro.
Nilton foi chefe da chamada máfia dos caça-níquéis e candidato a prefeito das cidades de Maringá (PR) e Bonito (MS). Entre outras polêmicas, ele foi acusado de invadir um salão de festas com um jipe, atirar em um Policial Militar e comandar um grupo que tentou invadir um jornal de Maringá para impedir a circulação de uma edição.
O advogado Eudes Fonseca diz que, além dos calotes em shows, Thiago Servo também está devendo dinheiro a pilotos e proprietários de aeronaves que o cantor alugou, mas não pagou.
— Estou reunindo todas as pessoas que tomaram calote do Thiago para criar uma ação coletiva contra ele. Se cada um entrasse como uma ação individual, ele só seria acionado por desacordo comercial. Com todos os processos juntos, queremos pedir a prisão do músico por estelionato.
O processo poderá ser julgado em Belo Horizonte ou Divinópolis. As vítimas ainda vão decidir a localidade. Fonseca diz que, além de Thiago, uma empresária relacionado ao músico também será processada pois emprestou cheques sem fundo para o cantor quitar débitos.
— Essa ação é de interesse social, pois atinge todo o mercado de shows. Já tentei entrar em contato com ele, mas é impossível encontrá-lo. Falei com a mãe do Thiago, dona Maria Dalva, e ela não quis resolver o assunto. Só com julgamento saberemos o que vai dar.