Traficantes de drogas dominaram a rua Nacip Raydan, no bairro Jardim das Alterosas/Segunda Seção, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e moradores deram um basta às regras impostas pelo crime e pediram socorro à Polícia Militar. Houve troca de tiros, na noite de segunda-feira, e dois suspeitos de tráfico foram mortos a tiros.
Segundo a denúncia dos moradores, os criminosos estavam impondo regras a todo mundo que transitava pela rua à noite. Eles revistavam não apenas quem chegava para comprar drogas, mas também moradores, sempre ostentando armas de fogo.
A PM disse ter enviado duas viaturas ao local, que cercaram a rua dos dois lados. Os traficantes perceberam a presença dos militares e começaram a atirar na direção deles.
Os policiais contam que revidaram e mataram dois homens, que estavam armados com revólveres calibres 32 e 38. De acordo com o tenente do Batalhão de Policiamento Especializado (BPE), Vanildo Ferreira, uma grande quantidade de munição também foi apreendida.
Outros traficantes, segundo o tenente, conseguiram fugir deixando drogas para trás. Cães farejadores localizaram mais drogas escondidas em buracos cavados em um barranco. Ao todo, foram recolhidos 63 três pinos de cocaína, buchas de maconha e pedras de crack.
Moradores da rua disseram ao Super Notícia que vinham sendo obrigados a acatar várias regras e que viraram reféns dos marginais. Entre as “exigências” dos bandidos, segundo eles, está a ordem de que quem passasse de carro pelo local à noite deveria abaixar o farol e acender a luz interna. Já os motociclistas tinham que tirar o capacete para serem identificados, situações que estavam incomodando a todos.
Uma mulher, que pediu para não ser identificada, conta que o seu marido chega do trabalho de madrugada e é obrigado a piscar o farol da moto, para mostrar que é morador e ter permissão para entrar na rua onde mora. Segundo ela, o local virou uma praça de guerra segunda-feira à noite, durante o confronto da PM com os traficantes.
A reportagem conversou com outra moradora, que também pediu não ser identificada, e ela conta que os tiroteios acontecem quase toda noite e que ninguém consegue dormir direito com medo e por causa do barulho.
“Nossa Senhora. Tiro demais. Eu deitei no chão com meus meninos e eu estava sozinha. Meu marido chega às 2h da manhã e foi terrível. Só Deus para ter misericórdia”, comentou a moradora. “Meu irmão mora nos fundos e também ficou deitado no chão, dentro de casa, com medo de bala perdida”, disse.
Segundo a mulher, os traficantes estavam se sentindo os donos das ruas e que espera por tranquilidade agora em diante. “Meu marido chega de moto à noite e tem que piscar o farol para se identificar como morador. Senão, ele não passa”, reclama a mulher.
Ela disse que o medo é tanto que ela e os filhos se trancam dentro de casa a partir das 18h. “A gente não pode mais ficar aqui na rua. Deu seis e meia e eu mesma entro para dentro de casa, fecho o meu portão e não saio mais na rua. Mesmo durante o dia é perigoso”, comentou.
Na manhã desta terça-feira, rastro de sangue ainda podiam ser vistos na rua e nos becos próximos. “Está difícil. Tem tiroteio quase todo dia”, lamentou outra moradora. Segundo ela, os traficantes estavam mandando na rua. “Falaram comigo que depois das seis da tarde eles não querem ninguém na rua”, reforçou.
Um aposentado de 69 anos conta que a violência é tanta que a filha dele está vendendo a casa onde mora para buscar sossego em outro lugar. Na noite de segunda-feira, ele conta que foram tantos tiros que ele ficou aterrorizado. “Tiro de lascar. Mais de 30 tiros. Demais da conta. Saí no portão e corri para dentro de casa de novo. Eu nem saio mais à noite, pois é perigoso demais. Eles vendem, eles usam drogas, eles fazem tudo. Chega a noite e ninguém pode passar mais na rua. O cara desceu com um revólver na mão e eu morri de medo”, reclama o aposentado. “Minha filha está até vendendo o barraco dela para sair fora daqui”, disse, mostrando a casa com o anúncio de venda. “Tem 22 anos que moro aqui. De dois anos para cá, a coisa só foi piorando”, lamentou.
A Polícia Militar informou que os policiais do BPE de Contagem, que participaram do confronto, tiveram suas armas apreendidas e que foi lavrado um Auto de Prisão em Flagrante para apurar as duas mortes. O boletim de ocorrência do caso ainda não havia sido concluído na manhã desta terça-feira, segundo a PM. Disse, apenas que a ocorrência das mortes seria registrada na Polícia Civil de Betim para abertura de inquérito.