Em 18 de julho de 1967, o Brasil foi abalado pela trágica morte de Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente do regime militar, em um acidente aéreo. O avião Piper Aztec, que transportava o ex-presidente, sofreu uma colisão com um TF-33A da Força Aérea Brasileira (FAB) enquanto se preparava para pousar na base aérea de Fortaleza. O impacto resultou na queda da aeronave e na morte de quase todos os ocupantes.
Um Acidente Raro
Acidentes desse tipo, especialmente envolvendo aeronaves militares, são extremamente raros. Entre 2012 e 2022, o Brasil registrou apenas três acidentes fatais decorrentes de colisões em voo, segundo dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à Aeronáutica. A tragédia que vitimou Castello Branco se destaca tanto pela sua raridade quanto pela figura ilustre envolvida.
O Destino Fatal
Castello Branco estava visitando a fazenda Não Me Deixes, em Quixadá (CE), onde se encontrou com a escritora Rachel de Queiroz. Na manhã do dia 18, ele partiu de avião rumo à Fortaleza. Cerca de 40 minutos após a decolagem, o Piper Aztec entrou numa área de treinamento da Aeronáutica. Durante a descida, a cauda do avião foi atingida por um TF-33A que voava em formação. A colisão destruiu o tanque de combustível da asa do TF-33A, forçando seu piloto a um pouso de emergência, enquanto o Piper, sem controle, caiu.
Sobrevivente e Relatos
O único sobrevivente foi o copiloto Emílio Celso Tinoco, filho do piloto Celso Tinoco. Ele relatou que o ex-presidente percebeu o risco de colisão e tentou alertar a tripulação. Tinoco também descreveu a queda como extremamente rápida, e após recuperar os sentidos no hospital, contou que conseguiu tirar Castello Branco da cabine antes que as chamas consumissem a aeronave.
Investigações e Teorias
A colisão gerou diversas teorias, algumas sugerindo um atentado, especialmente considerando o contexto político da época. Castello Branco havia transferido a presidência para o marechal Artur da Costa e Silva, da ala mais dura do regime militar. A escritora Rachel de Queiroz, no entanto, descartou a possibilidade de um atentado, lembrando que o marechal desejava sobrevoar a construção da linha de energia do rio São Francisco, uma área de treinamento militar.
Contexto Político
O ano de 1967 foi marcado por tensões políticas significativas. Castello Branco, membro do Grupo Sorbonne, havia defendido o desenvolvimento industrial do Brasil e era conhecido por prometer eleições diretas, promessa que foi adiada. A presidência de Costa e Silva marcou o início de uma repressão mais dura, o que aumentou a especulação sobre o possível descontentamento de Castello Branco e suas potenciais declarações contrárias ao regime autoritário vigente.
Legado e Memória
Castello Branco foi enterrado no Rio de Janeiro, e seus restos mortais foram posteriormente levados a um mausoléu no Palácio da Abolição, em Fortaleza. As aeronaves envolvidas no acidente foram restauradas e estão em exposição, uma na Base Aérea de Fortaleza e a outra no 23º Batalhão de Caçadores do Exército, onde Castello Branco é patrono.
Apesar das circunstâncias e das teorias que circundam o acidente, nunca surgiram evidências que comprovassem qualquer forma de atentado. A trágica morte de Castello Branco continua sendo um marco na história do Brasil, lembrada tanto pelo impacto político quanto pela raridade do acidente.