As pistas duplicadas e bem sinalizadas não são suficientes para mudar o estigma de “rodovia da morte” da BR–381, que ainda lidera em número de acidentes no Estado. Os KMs 532 e 533 da estrada, localizados em Itatiaiuçu, na região Central, tiveram 98 ocorrências no ano passado e formam o trecho mais violento de Minas. Para especialistas, além de haver imprudência dos condutores, que abusam da velocidade na sinuosa via, falta fiscalização.
A reportagem esteve no trecho na manhã da última quarta-feira, quando, em cerca de 3 km, entre o KM 530 e o KM 533, ao menos quatro acidentes foram registrados. No local, a pista tem duas faixas e acostamento em cada sentido, além de placas que indicam limites de velocidade e orientam quanto à necessidade de se dirigir mais devagar ou de se prestar atenção às curvas, que são mais abertas. Muitos veículos pesados circulavam na estrada, e, para completar, chovia e havia muita neblina, prejudicando a visibilidade dos motoristas.
Veja AQUI os trechos com mais ocorrências em Minas.
A dona de casa Hilda da Consolação, 53, e a filha seguiam para Piracema, também na região Central, quando o carro em que elas estavam capotou na pista, na altura do KM 532, por volta das 8h. Elas não tiveram ferimentos graves. “Graças a Deus, a gente estava devagar, por causa da neblina, porque poderia ter sido pior”, disse Hilda. O policial rodoviário federal Rafael Tibo, do posto de Itatiaiuçu, disse que acidentes são frequentes no trecho devido, em parte, à engenharia das curvas e, sobretudo, ao excesso de velocidade. “Quando chove, se o veículo está em velocidade incompatível com a via, é certo que vai haver saída de pista ou capotamento. Os motoristas não conseguem vencer a curva”, pontuou.
Análise. A Autopista Fernão Dias, concessionária responsável pela administração de 570 km da BR–381, afirmou que o trecho não tem curvas acentuadas e ressaltou que, para reduzir os índices de acidentes, realiza melhorias constantes no pavimento e na sinalização da pista. A empresa afirmou ainda que produz campanhas educativas periódicas com usuários da via e moradores sobre comportamento seguro. A concessionária mantém 13 radares na rodovia em Minas, sendo que dois, um em cada sentido, estão localizados relativamente perto do trecho – nos KMs 525 e 528, em Brumadinho, na região metropolitana de BH.
Para o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, campanhas educativas não bastam, e a fiscalização na rodovia tem que ser intensificada. “A fiscalização eletrônica, hoje, é o principal elemento para a redução de acidentes. O motorista anda na velocidade que quer e só freia quando chega perto do radar”, disse.
Fernão Dias tem mais mortes do que parte não duplicada
O trecho duplicado da 381, entre Contagem, na região metropolitana, e São Paulo, tem mais mortes do que o trecho não duplicado, até Governador Valadares, na região do Rio Doce, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). “O motorista abusa mais da velocidade e diminui a atenção porque se sente mais seguro na rodovia duplicada”, disse o chefe de comunicação da PRF-MG, Aristides Júnior.
Segundo ele, as rodovias 381, 040, 116 e 262, que têm os trechos mais violentos do Estado, possuem maior movimentação. A fiscalização da PRF abrange cerca de 5.500 km de rodovias.
Respostas
Dnit. O departamento informou que os trechos sob sua responsabilidade recebem melhorias na pavimentação e na sinalização. As BRs não são duplicadas e têm segmentos com terceiras faixas. A 381 passa por obras de duplicação.
Via 040. Responsável por 936,8 km da 040, a concessionária informou que o local tem pista duplicada e que os acidentes têm relação com o maior tráfego. A empresa disse que, além de a BR ter dois radares e sinalização, recebe manutenção.
Triunfo Concebra. O KM 381, com mais acidentes da 262, é duplicado e concedido à concessionária, que administra 546 km da via. A empresa pontuou ações como sinalização e pavimentação.