O engajamento fervoroso da Jovem Pan na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 teve um custo significativo para a emissora, uma das preferidas da extrema direita. Os números contundentes revelam que o faturamento da emissora encolheu mais de um quarto (26%) em 2023, resultando em uma perda de receitas de pelo menos R$ 27 milhões. Essa queda abrupta culminou em um prejuízo de R$ 710 mil, de acordo com dados do balanço contábil.
A principal razão por trás desse declínio foi a punição imposta pelo Google, que interrompeu a monetização do conteúdo da Jovem Pan no YouTube, além do corte substancial de uma verba governamental de quase R$ 5 milhões anuais. A emissora também enfrentou a pressão de movimentos como o Sleeping Giants Brasil, que liderou uma campanha de desmonetização, resultando no cancelamento de contratos de anunciantes no valor de R$ 810 mil em um único mês.
Acusada repetidamente de disseminar fake news, a Jovem Pan se viu na mira do Ministério Público Federal, que chegou a solicitar a cassação de suas concessões devido a uma “campanha de desinformação”.
Ao longo dos anos Bolsonaro (2019-2022), a Jovem Pan experimentou um crescimento notável, passando de um faturamento de R$ 65,3 milhões em 2017 para R$ 103,4 milhões em 2022. Durante o período em que esteve na Presidência da República, Bolsonaro direcionou consideráveis R$ 18,8 milhões em verbas para campanhas publicitárias na emissora, segundo relatos da Folha de S.Paulo.
No entanto, o ponto alto desse crescimento foi impulsionado pelo YouTube, onde os canais da Jovem Pan acumulam uma base de 25 milhões de inscritos e 15 bilhões de visualizações, gerando potencialmente mais de R$ 20 milhões em receitas líquidas anuais por meio de publicidade programática.
Todavia, em novembro de 2022, o Google suspendeu a monetização dos vídeos da emissora, citando “desinformação eleitoral e violação das diretrizes de publicidade”. A recuperação da monetização só ocorreu em março do ano seguinte.
Esse revés teve um impacto devastador nas finanças da Jovem Pan. O faturamento bruto da Rádio Pan-Americana S/A, sua razão social, despencou de R$ 103,4 milhões em 2022 para R$ 76,4 milhões em 2023, interrompendo uma sequência anual de crescimento. Sem as receitas do YouTube e do governo, a emissora teve que cortar custos e promover demissões, resultando em um aumento significativo das despesas administrativas.
Embora tenha fechado o ano com um prejuízo de mais de R$ 700 mil, a situação da Jovem Pan é considerada confortável, principalmente devido aos lucros acumulados durante os anos Bolsonaro. A empresa possui uma reserva de lucros de R$ 88 milhões e, em dezembro de 2023, contava com R$ 9 milhões em caixa, além de outros R$ 29,8 milhões emprestados.
Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas após o término do mandato de Bolsonaro, a Jovem Pan mantém uma posição estável, embora deva enfrentar desafios significativos para recuperar sua lucratividade anterior.