As universidades públicas sempre estiveram de portas abertas para parcerias com empresas privadas e entidades governamentais, mas durante a pandemia essas parcerias têm se intensificado em áreas ligadas à saúde. Na UFMG, a principal demanda nesse período foi por testes diagnósticos para Covid, mas também houve grande busca por informações qualificadas para medidas de segurança.
De acordo com o pró-reitor de Pesquisa da UFMG, Mario Montenegro, uma das demandas trazidas por empresas e entidades públicas foi o desenvolvimento de protocolos adequados e seguros. “A Faculdade de Odontologia, por exemplo, criou um protocolo para clínicas que foi de grande relevância e teve boa repercussão, sendo usado em vários lugares do país”, diz o pró-reitor.
Em um momento em que o orçamento das universidades públicas fica mais achatado pelo governo federal – a UFMG deve receber R$ 76 milhões a menos do que em 2020 –, as parcerias com a iniciativa privada e entes públicos se tornam ainda mais valiosas. Em 2020, a UFMG arrecadou mais de R$ 27 milhões em recursos próprios, que são provenientes de parcerias, doações e prestações de serviços captados em todas unidades. Em 2021, até o momento, a arrecadação foi de R$ 11,5 milhões.
As empresas podem fazer doações para o desenvolvimento de pesquisas, mas elas são mais raras. A forma mais comum de investimento acontece quando uma instituição tem algum problema específico e procura a universidade para encontrar a solução. “Nesse caso, a empresa entra em contato com a universidade com uma demanda de pesquisa ou para uma prestação de serviços, como uma consultoria, por exemplo”, conta.
Uma parceria entre pesquisadores e uma empresa privada pode levar a um produto de interesse comercial, que pode vir a ser fabricado em larga escala – mediante um licenciamento de tecnologia. “A atividade na universidade chega a determinado ponto, pois não é nossa proposta a comercialização. A universidade desenvolve a tecnologia e depois transfere para o setor privado produzir”, diz.
O governo de Minas e as prefeituras de Belo Horizonte e Betim também realizaram diferentes parcerias ao longo da pandemia. Mais parcerias também podem ser feitas. “Existe uma reclamação de que as parcerias são lentas e burocráticas, mas isso acontece porque a pesquisa no Brasil se concentra em órgãos públicos, e nesse caso o arcabouço jurídico é mais complicado. Mas temos ganhado velocidade nas parcerias”, conta.
Montenegro lembra ainda que a execução de muitas pesquisas universitárias foi prejudicada em Minas pela falta de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A lei diz que 1% da receita do Estado deve ser repassada à entidade de fomento, mas isso não vem acontecendo por causa da severa crise econômica vivenciada pelo governo estadual.
Programa federal
Uma das principais formas de parceria entre iniciativa privada e universidades passa hoje pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrappi), que possui unidades espalhadas em universidades públicas do país – duas na UFMG.
O programa federal busca alternativas para setores tecnológicos, fazendo a ponte entre pesquisadores e empresas. Somente na área da indústria automotiva, foram desenvolvidos 95 projetos que beneficiaram 120 empresas, desde startups até as grandes montadoras multinacionais, alavancando um total de R$ 110 milhões em investimentos no setor, segundo a Embrapii.
“A gente espera que as empresas e os gestores possam despertar para o conhecimento de que a universidade pode ser um parceiro para um melhor atendimento à sociedade”, afirma Mario Montenegro.