Uberlândia, Minas Gerais. Pouco mais de duas semanas após a trágica morte de um idoso de 74 anos por falta de atendimento, a Reitoria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) emitiu um alarme urgente sobre a delicada situação enfrentada pelo Hospital de Clínicas (HC-UFU).
Durante uma coletiva de imprensa realizada na manhã de quinta-feira (17.ago.23), o reitor da instituição, Valder Steffen Junior, expressou seu pesar pela morte do paciente, que faleceu dentro de uma ambulância nas instalações do hospital enquanto aguardava atendimento.
O reitor também destacou a imperativa necessidade de criar novos postos de atendimento para aliviar a sobrecarga na unidade, que é responsável por cuidar de casos de urgência, emergência, alta e média complexidade de 27 municípios da região.
Valder Steffen Junior lamentou profundamente a fatalidade envolvendo o idoso Eurípedes Roberto Faria, ocorrida em 29 de julho, quando o paciente aguardava assistência no HC-UFU por quase quatro horas. No momento, o Pronto Socorro da Universidade Federal de Uberlândia estava operando muito além de sua capacidade, com 156 pacientes e 10 ambulâncias alinhadas na entrada. O PS, que atualmente dispõe de 69 leitos, estava operando com mais do que o dobro de sua capacidade. Atualmente, a ocupação total do hospital é de 98,7%, enquanto o Pronto Socorro opera a uma taxa alarmante de 137% de ocupação.
“A Universidade Federal de Uberlândia lamenta profundamente o falecimento do paciente nas imediações do Hospital de Clínicas. O Pronto Socorro estava claramente sobrecarregado, exigindo que mais leitos de Pronto Socorro sejam disponibilizados na rede de saúde. A UFU não pode arcar sozinha com essa crescente demanda, e toda vez que o Pronto Socorro atinge sua capacidade máxima, as ramificações negativas se propagam por toda a rede de atendimento. Isso é de extrema gravidade, pois cirurgias eletivas precisam ser canceladas. Cancelar uma cirurgia eletiva, além de criar transtornos e dificuldades, também representa um risco à vida do paciente. Além disso, isso compromete toda a educação e treinamento de nossos internos e residentes”, ressaltou o reitor.
Eurípedes faleceu após aguardar quase quatro horas por atendimento no Hospital de Clínicas da UFU. Ele foi transportado por uma ambulância da Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro São Jorge e chegou ao hospital consciente, mas necessitando urgentemente de um procedimento de cateterismo devido a um infarto. No entanto, a falta de vagas na unidade resultou em uma segunda parada cardiorrespiratória às 5h20, que infelizmente o levou à morte.
Dois dias após o trágico incidente, o Diário conversou com o secretário Municipal de Saúde, Clauber Lourenço, que esclareceu que a administração do HC-UFU estava ciente das circunstâncias e foi previamente alertada pelo médico de plantão que acompanhava o paciente, ressaltando a urgência do caso. Durante a entrevista, o secretário também enfatizou que a Prefeitura e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) firmaram um convênio em dezembro do ano anterior, prevendo o atendimento de pacientes com alta complexidade encaminhados pelo município. Isso inclui procedimentos cardiovasculares, incluindo casos como o de Eurípedes, que necessitava de um cateterismo.
O reitor destacou que tanto a UFU quanto o Hospital de Clínicas não são os únicos responsáveis pela saúde na cidade. “A responsabilidade pela saúde em Uberlândia recai sobre o gestor municipal de saúde. Aqui, operamos sob o esquema de Gestão Plena de Saúde. O HC-UFU é um componente da rede de atendimento à saúde, mas não é o único. Em termos de urgência e emergência, o nosso Pronto Socorro está de portas abertas. No entanto, o único hospital que atende os 27 municípios da região é o Hospital de Clínicas. Isso coloca uma enorme carga sobre a unidade, dadas as carências de leitos hospitalares que conhecemos bem. Nossos serviços são rigorosamente avaliados a cada quatro meses, em um processo que envolve uma prestação de contas significativa por parte da Secretaria de Saúde. A avaliação mais recente ocorreu em junho e foi aprovada”, ressaltou Valder Steffen Junior.
A carência de leitos e a superlotação motivaram um protesto realizado por servidores do HC-UFU em 10 de agosto, nas proximidades da unidade. A manifestação, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico Administrativos em Instituições Federais de Ensino Superior (Sintet), reuniu cerca de 60% dos profissionais do hospital em frente ao Pronto Socorro. Os trabalhadores aderiram à paralisação em resposta à “situação caótica e desafiadora do Hospital de Clínicas”, expondo ainda mais os problemas de superlotação e as péssimas condições de trabalho.
De acordo com Valder Steffen Junior, é fundamental que outras redes de atendimento sejam estabelecidas para apoiar o Hospital de Clínicas da UFU. O reitor ressaltou que a saúde mental e física dos profissionais é crucial para permitir que a unidade continue lidando com casos de urgência e emergência dos 27 municípios da região. “O hospital opera 24 horas por dia, todos os dias do ano, sem exceção. Não importam feriados, Natal ou Semana Santa. Nossas equipes são altamente comprometidas e devem estar saudáveis tanto fisicamente quanto emocionalmente para fornecer a qualidade que a Universidade Federal de Uberlândia deve oferecer. Nossa universidade é pública, gratuita, democrática, de alta qualidade, referenciada socialmente e secular. Esta é a nossa missão institucional”, concluiu o reitor.