Ser mãe e profissional da saúde em tempos de covid-19 é uma das combinações mais heroicas que se tem notícia. Durante longos e exaustivos plantões, elas exercem a nobre missão de cuidar e de salvar a vida dos filhos dos outros. Ao mesmo tempo, precisam lidar com tudo aquilo que acontece da porta do hospital para fora, dentro das próprias casas e famílias.
Relatos de isolamento e da impossibilidade de abraços são de conhecimento público. Mas agora, vacinadas, médicas e enfermeiras começam a virar essa página e viver um Dia das Mães com um pouco mais de esperança e planos para o futuro.
“Com todo o cuidado, já conseguimos ter algum lazer junto, fazer refeições juntos e também posso acompanhar as aulas online dos meus filhos mais de perto”, disse Adriana Coracini Tonacio de Proença, médica infectologista do Hospital das Clínicas, de 37 anos, mãe de Madalena, 8 anos, e Samuel, 5. “Quando tudo isso passar, nos prometemos uma viagem para a Disney. Agora é esperar o fim da pandemia e o dólar baixar”, completou.
No início da pandemia, Adriana conversou com os filhos sobre os motivos que os impediam de descer no parquinho ou de irem ao supermercado. Além disso, a realidade profissional fez com que ela evitasse muito contato com eles. Adriana chegou a passar uns dias na casa de uma amiga para evitar riscos de contágio (enquanto as crianças ficavam com os avós).
“É um estresse a mais. Você exerce o seu trabalho, mas tem a sensação de não conseguir cumprir o papel de mãe. A rotina é muito pesada, você tem poucas horas com as crianças e fica com uma preocupação constante. Mas tenho esperança de que tudo vai melhorar”, comenta Adriana.
Aos poucos, a médica Márcia Giselle Barros, 39 anos, do Hospital e Maternidade Professor Mario Degni, vai retomando a rotina de brincadeiras e a proximidade com a filha Hellena, de 4 anos. “Depois da vacina, fiquei mais esperançosa. A pandemia ainda não acabou, mas já podemos dar nossos primeiros passos”, disse.
Mesmo antes de ser vacinada, a mamãe Giselle ensinou a filha a usar a máscara de proteção e lavar às mãos – com a mesma técnica de médicas e enfermeiras. “Agora, ela me diz que quer ser médica. Gosta de usar jaleco e de brincar que está auscultando meu coração”, disse. “Quando chego em casa, ela me pergunta sobre meus pacientes, quer saber se eles estão bem. É uma coisa muito bonita. Ela também vive repetindo a expressão: em tempo de pandemia….”
Médica-cirurgiã e intensivista do Hospital Albert Einstein, Flávia Nunes Dias Campos, 41 anos, mãe do Ricardo, 11 anos, e do Fernando, de 9, contou que os meninos estão pedindo para conhecer a neve – e que, tão logo a situação mundial permita, esse será o roteiro de férias da família.
Vacinada, e ainda tomando muitos cuidados em casa (e fora dela), Flávia voltou a ficar mais próxima dos filhos. “Reservo um horário para ler com eles, para jantar, brincamos juntos com jogos de carta e de tabuleiro… Neste momento, a gente vai retomando uma relação que foi prejudicada pela pandemia”, observa.
“Tive contato com muitas mães neste ano. Acompanhei diversas reuniões, mesmo virtuais, com mães que eram informadas quando seus filhos precisavam ser intubados. Isso é algo muito marcante. Filho não tem idade”, lembrou Flávia. “Por isso, se eu puder escolher um presente para o Dia das Mães, gostaria que tivesse vacina para todas.”
A pandemia pegou Vanessa Macedo, enfermeira do Hospital Municipal Doutor Alexandre Zaio, de 37 anos, no finzinho de uma licença maternidade. O Davi tinha apenas 7 meses quando ela precisou se afastar um pouco para protegê-lo de eventuais complicações relacionadas à covid. “Contei com o apoio da família. Vivia borrifando álcool em gel em casa. Quando tirava a máscara para comer, meu filho caía na risada porque não conhecia o meu rosto direito”, lembra.
Hoje, Davi já começou a falar e repetir palavras como “pandelia”. “Meu plano para quando tudo estiver bem de novo é ir no parque jogar bola com ele, brincar de esconde-esconde, ver os pássaros – principalmente o quero-quero que ele tanto gosta. Quero mostrar para o meu filho o mundo lá fora”, afirmou Vanessa.
A enfermeira do Einstein Thaís Santos Garcia, 30 anos, é mãe do Pedro, de 2. “Ele é o meu amor indestrutível. Mesmo sem saber, ele é a força que me faz continuar lutando e trabalhando. É a minha esperança no futuro”, conta.
Thaís passou pelas mesmas dificuldades que outras profissionais da saúde, com o acréscimo de ter descoberto no meio da pandemia que o filho está dentro do espectro do autismo – o que demandou outros desafios e cuidados.
Mesmo vacinada, Thaís está consciente de que o País vive uma nova onda e não relaxa nos cuidados. “A nossa referência de alegria virou uma preocupação. Ainda não podemos sair para qualquer lugar, mas tenho fé que isso vai passar. Quando as preocupações diminuírem, quero levá-lo aos parques, para o zoológico, colocá-lo na natação e acompanhar o seu desenvolvimento”, disse.
A enfermeira Solange Maria Guimarães, 46 anos, do hospital e maternidade professor Mario Degni, tem três filhos, uma verdadeira escadinha: Samuel, 21 anos, Stefany, 15, e Sophia, de 8. A principal alegria da família de Solange só pôde ser retomada recentemente, com a vacina. “A gente tem o hábito de jantar juntos. Eu, meu marido e os três filhos. Ou seja, já é uma situação de aglomeração. Agora, conseguimos estar próximos de novo – ainda que com todos os cuidados”, falou.
Assim como outras profissionais da saúde, Solange sonha com um Dia das Mães no futuro, um dia em que todas as mães possam estar vacinadas e, portanto, mais tranquilas para abraçarem seus filhos e familiares. “Saúde para todo mundo! Vacina para todo mundo. Só assim vamos sair dessa”, avisou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.