Primeiras análises resultantes da pesquisa científica realizada pela Prefeitura de Betim em parceria com o Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostram que a variante P1 da Covid, a que surgiu em Manaus, foi encontrada em 100% dos casos analisados em Betim até o momento.
O objetivo do estudo, que terá continuidade com a coleta de mais amostras, é verificar, além da circulação das novas variantes no município, a prevalência delas na cidade.
Foram coletadas 11 amostras de pacientes atendidos na rede SUS do município, cujo material foi submetido a sequenciamento da carga viral. Desse total, foi possível analisar completamente sete dessas amostras. Duas ainda estão em estudo, e as demais não foi possível a análise por causa da baixa carga viral.
E das sete amostras que foram totalmente sequenciadas, todas são da variante P1. A data da coleta foi na primeira quinzena de março, o que coincide com o período do avanço da Covid no município e em todo o país. A variante P1 surgiu em Manaus e se espalhou rapidamente em todo o Brasil.
“Nos chamou a atenção nessas amostras coletadas em Betim a presença apenas da variante P1, não sendo encontradas outras cepas nesse estudo. Mas é importante ressaltar que não quer dizer que não possa haver outras variantes circulando em Betim, mas, nas análises que fizemos o sequenciamento, encontramos, até agora, somente a P1. E o que observamos desse estágio amostral é que a situação dominante por essa cepa não é exclusiva de Betim, mas do país inteiro. Onde ela chega, em pouco tempo, se torna dominante”, explicou o pesquisa da UFMG Renan Pedra.
Um estudo da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocurz) também mostra o avanço das variantes em todo o país. Até setembro 2020, a maioria dos casos no Brasil eram das variantes B.1.1.28 e B.1.1.33. A partir de dezembro, a cepa P2, do Rio de Janeiro, teve um crescimento rápido. Em fevereiro, a variante P1 passou a se tornar dominante do país, e a grande maioria dos casos em março e abril é proveniente dessa cepa.
Algumas características da P1 mostram por que ela se tornou a mais dominante no país. “Essa variante tem mostrado que a pessoa infectada com ela possui uma quantidade de vírus maior. Além disso, a P1 tem mais facilidade em entrar na célula do indivíduo para se multiplicar. Com isso, a pessoa acaba tendo uma carga viral muito alta. Transmitindo isso para outras pessoas, esse ciclo de transmissão se torna mais rápido”, completou Pedra.
A enfermeira da Rede Sus de Betim Ana Valeska Fernandes, que é uma das coordenadoras da pesquisa, ressalta que as amostras coletadas e analisadas são de pacientes jovens. “Foram pessoas entre 20 e 30 anos e entre 40 e 50, de várias regiões de Betim, que precisaram de atendimento médico. A data do início dos sintomas foi na primeira quinzena de março, o que coincide com aumento de casos e óbitos por Covid. Os mais comuns foram febre, tosse e dor de garganta, e alguns, diarreia”, afirmou.
Reinfecção
Ainda segundo Ana Valeska, dos pacientes cujas amostras foram analisadas, dois deles precisaram de internação, sendo um, em um leito de UTI. “E apenas dois pacientes tinham comorbidades, o que mostra a mudança do perfil dos infectados e que todos, até os jovens, podem desenvolver quadros graves da doença”, afirmou.
Dois casos foram de trabalhadores da saúde, sendo que um deles foi de reinfecção pela nova variante. Uma dessas pessoas tinha tomado apenas a primeira dose da vacina três dias antes da manifestação dos sintomas, e a outra tinha tomado as duas, mas não tinha completado o prazo de 30 dias após a segunda dose para ter o processo de imunização completo.
“A P1 está circulando e é necessário monitorar. Até as pessoas que foram vacinadas têm que manter os cuidados de prevenção, porque o ciclo de imunização (30 dias após a segunda dose) precisa estar completo. E como, neste momento, a maioria das vacinas que estão chegando é da AstraZeneca, cuja segunda aplicação leva três meses, é preciso mais do que nunca manter a prevenção”, completou.
Ana também afirma que, apesar do aumento de casos de Covid, grande parte da população ainda está suscetível a ser infectada pelo vírus. “Vamos continuar com as análises coletadas de pacientes para verificarmos as possíveis demais variantes em circulação”, concluiu.