O governo venezuelano negou solicitações de visto feitos pela TV Globo para a gravação em seu território da próxima novela das 21h, “Falso Brilhante”. Seria uma retaliação contra a cobertura da emissora brasileira da recente atual crise político-econômica do país.
Segundo o jornal venezuelano “El Universal”, que revelou o veto ontem, a emissora tentou, durante vários meses, obter a autorização para filmar no topo do monte Roraima, marco natural das fronteiras com o Brasil e a Guiana.
Ainda de acordo com o diário, o motivo é a exibição de cenas violentas envolvendo os protestos estudantis, cuja exibição está proibida pelas TVs venezuelanas.
A Globo buscou inicialmente a obtenção dos vistos no consulado venezuelano no Rio. Diante da recusa, procurou a intermediação do Itamaraty, igualmente sem sucesso.
Fontes diplomáticas ouvidas pela Folha de S.Paulo atribuem a decisão à Chancelaria venezuelana. Seriam dois os motivos. Um deles é a entrevista recente do líder oposicionista Henrique Capriles ao “Programa do Jô”.
Outro empecilho aos vistos seria de que a equipe da Globo incluía técnicos norte-americanos, levantando a suspeita de que se tratava de espiões.
A Globo se limitou a confirmar a não obtenção dos vistos.
“De fato, não obtivemos os vistos, mas isso não prejudicou a novela. Vamos usar imagens de arquivo, o que já estava previsto”, informou ontem a Central Globo de Comunicação.
Já a Embaixada da Venezuela em Brasília não havia respondido ao pedido de explicações até o fechamento desta edição.
Desde o início da crise, em fevereiro, o governo Nicolás Maduro acumula atritos com alguns meios de comunicação internacionais.
O governo venezuelano chegou a anunciar a expulsão de uma equipe da emissora americana CNN, mas recuou em seguida.
Na cobertura dos protestos, houve registros de roubo de equipamento e de detenções temporárias envolvendo jornalistas estrangeiras.
NOVELA
Escrita por Aguinaldo Silva, “Falso Brilhante” substituirá “Em Família” no principal horário da teledramaturgia do canal, a partir de 28 de julho. A emissora gravaria no país cenas da primeira fase da trama, ambientada nos anos 1980.
A Globo tem um histórico triste com monte Roraima. Em setembro de 1998, um helicóptero da emissora se acidentou no local, matando o cinegrafista Ricardo Cardoso. O resgate do restante da equipe levou 62 horas.