Um vídeo publicado nas redes sociais no fim de 2017 expôs a violência policial que vem afligindo alguns moradores do Morro do Papagaio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Nas imagens, um militar é flagrando dando tapas, socos e chutes em um jovem que era revistado. Após gritos da população, o abordado acabou liberado e os policiais foram embora sem conduzir ninguém ou fazer qualquer apreensão.
As imagens foram feitas por um morador que presenciou toda a agressão, ocorrida no dia 29 de dezembro na rua Principal, em plena luz do dia, por volta das 16h. No vídeo é possível ver uma viatura da Polícia Militar (PM) parada com dois policiais do lado de fora.
Enquanto isso, dois rapazes estão encostados no muro. De repente, um dos militares desfere um tapa na cabeça de um dos revistados e, pouco depois, dá vários socos e chuta a perna do menino, que é jogado por ele no chão.
Em nota, a PM diz que “não compactua com condutas operacionais em desacordo com os treinamentos e doutrinas institucionais de respeito aos direitos humanos e garantias fundamentais, e que preza pela lisura de suas atividades”. E acrescenta: “Assim, toda denúncia fundamentada é objeto de apuração para a que o devido processo legal seja capaz de apurar e punir as posturas desviantes, diz o texto”. Denúncias podem ser feitas pelos telefones 181 e 190.
Assista:
De acordo com uma moradora que publicou os vídeos nas redes sociais e que por medo não quis ser identificada, essa situação é corriqueira na região.
“Na semana passada foi o meu irmão que foi agredido. Desde que eu postei, eles já vieram na minha casa para me coagir a apagar o vídeo duas vezes, fazendo pressão psicológica, falando que vão me processar. Estou me sentindo desprotegida”, denuncia.
Diante da violência, a jovem resolveu procurar a sede da 124ª Companhia do 22º Batalhão da PM para denunciar as ações truculentas.
“Conversei com o major Cláudio, que só anotou meu nome em um papel e falou que ia dar um jeito. Não fez B.O., não me deu número nenhum para acompanhar e ainda me falou que eu não precisaria procurar a corregedoria, pois iria resolver. Mas logo depois disso os policiais vieram aqui em casa, falando que era para eu apagar o vídeo e me coagindo, dizendo que estariam me esperando 9h na frente da companhia para eu retirar a denúncia que fiz”, detalha a jovem.
Mesmo depois da denúncia aos comandantes, os casos de violência nas abordagens contra os moradores do morro teriam continuado. Na madrugada desta terça-feira (9), um usuário de drogas foi abordado por policiais e com ele foram achadas uma porção de maconha e um pino de cocaína.
“Bateram nele e fizeram engolir a maconha. O pino ninguém sabe o que aconteceu, se jogaram fora ou se ficaram para eles. Mas ninguém foi levado para a delegacia”, denuncia um morador.
Os mais violentos
Ainda de acordo com os relatos dos moradores, são vários os policiais que atuam na região e que são conhecidos pela prática violenta, mas dois deles seriam piores. Destes dois, um deles também é morador do aglomerado.
“Este que mora aqui é um dos piores. Ele chama Jarbas e é conhecido como ‘Marmitex’. O problema é que mesmo quando ele não está trabalhando, encontramos com ele na padaria, no supermercado, e ficamos amedrontados. O outro chama Flávio, conhecido como ‘Carreirinha’, que também é terrível. Bate até em mulher. Neste vídeo que publiquei também aparece um major, o Figueiredo, que não bate, mas vê tudo e não faz nada”, disse uma jovem moradora do morro.
Ao mesmo tempo, outros moradores do Morro do Papagaio não acreditam na inocência de quem foi agredido pela PM. “Fiquei sabendo desse vídeo mesmo. Não sei quem é, mas para apanhar assim não deve ser santo’, disse, sob anonimato, uma moradora, que vive na parte de baixo do Morro do Papagaio. Segundo ela, as agressões teriam ocorrido na parte de cima, onde a “coisa é mais quente”.
“Aqui na parte de baixo nós temos um bom relacionamento com a polícia. Na verdade é cada um num canto: militares, moradores e, até traficantes de gangues diferentes. Ninguém mexe com ninguém”, disse um outro morador, que também pediu para não ser identificado.