“Virou um cenário de guerra. Muita gente ferida, muito sangue. Muito terror, mesmo!”. O relato é da auxiliar de serviços gerais Andréia Aparecida de Castro Pinto, de 29 anos, que, assim como outros moradores do bairro Mangueiras que ajudaram a socorrer as vítimas da tragédia envolvendo um ônibus da linha 305 (Estação Diamante/ Mangueiras), não consegue esquecer as cenas chocantes que presenciou e se emociona ao comentar.
A mulher mora a menos de cinco metros do córrego onde o coletivo caiu na noite de terça-feira (13), matando o motorista e quatro passageiras. Ela conta que pulou no canal para socorrer os sobreviventes. Dezoito feridos foram resgatados, três deles em estado grave.
“Eu estava sentada no portão da minha casa e escutei um barulho. Achei que fosse um caminhão descendo, mas era um ônibus. Achei que era assalto porque ônibus não desce essa rua. Entrei rapidamente para dentro de casa com minha filha pequena e fechei o portão. Assim que fechei o portão, escutei um estrondo fortíssimo. Abri o portão e o cenário era de guerra”, conta Andréia.
“Pulei no canal do córrego para ajudar as pessoas que iam saindo do ônibus, puxando elas para o asfalto “, disse. “Teve um homem que perdeu um braço e pessoas com muitas fraturas expostas, gritando de dor, desespero”, conta Andréia. “Tinha irmãos, pessoas conhecidas, querendo saber onde estavam os outros”, relatou. “Horrível. Tive que tirar minha filha de perto para ela não se assustar ainda mais. Alguns feridos foram colegas de infância do meu filho”, continua
Andréia detalha que o passageiro que perdeu o braço estava sentado na parte traseira do ônibus e foi arremessado pela janela. “Ele bateu no barranco e desceu para o córrego. Foi quando a população entrou na água para retira-lo”, conta.
Outro que entrou no ônibus para retirar os feridos é o bombeiro hidráulico Vagner Garcia, de 25 anos. “Colocamos o rapaz com o braço amputado na esquina. Tinha um cara combo rosto bastante amassado. Tiramos ele também com diversas fraturas expostas. Muita gente gritando de dor, pedindo socorro ” conta Vagner.
O motorista do ônibus , Márcio João de Carvalho, de 58 anos, ainda permaneceu consciente por cerca de 40 minutos antes de morrer, segundo Vagner. “O socorro chegou 50 minutos depois do acidente “, disse.
“O motorista só falava que estava sentindo muitas dores nas pernas, que estavam completamente presas nas ferragens. Uma parte da tampa do motor estava presa no peito dele”, relata o bombeiro hidráulico.
“Só reclamava de muita dor e não conseguia mexer a cabeça, que estava apoiada”, disse.
“Meninas mais novas, pessoas mais velhas. Uma senhora estava muito ferida e tiramos ela do ônibus com muito cuidado. Tinha um menino de 10 ou 12 anos, um rapaz de uns 25 a 30 anos com o braço amputado. Eu olhava para os lados e só via muito sangue.”
Marcha lenta
Uma mulher que já trabalhou na linha 305 como cobradora conta que conhecia o motorista. “Muito bom motorista, educado e tranquilo. Ninguém estressava ele. O pessoal até chamava ele de ‘Marcha Lenta’ porque ele era muito mole, não estressava no trânsito. Muito tranquilo para trabalhar e também com os passageiros”, contou a mulher, que não se identificou.