O governador Romeu Zema está em Brasília desde terça-feira para acompanhar a Marcha dos Prefeitos e tentar a prorrogação do prazo de desativação do Aeroporto Carlos Prates na Região Noroeste de Belo Horizonte. A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais informou que o chefe do Executivo minieiro pretende adiar o prazo em seis meses. O governo de Minas entende que a complexidade da operação e a necessidade de um planejamento adequado para reduzir os impactos sociais decorrentes desse processo exigem que a retirada do aeródromo seja moderada, organizada e segura. Dessa forma, a desativação agendada para o início de abril, na visão do governo, é inviável.
O secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Pedro Bruno, informou que já havia se reunido na tarde da última terça-feira com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, para tentar a prorrogação, mas a decisão do governo federal foi mantida, o que levou à atuação de Zema pelo adiamento. Já o prefeito Fuad Noman disse que o Ministério de Portos e Aeroportos e a PBH já pediram aumento do prazo à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que sejam retiradas as aeronaves dos hangares. “Conversei com a Anac e perguntei se era possível prorrogar esse prazo. Eles me disseram o seguinte: podemos prorrogar o prazo de decolagens para tirar os aviões de lá e para dar tempo do pessoal que está com aviões em manutenção sair, mas os pousos ficam suspensos”, revelou Fuad na última semana.
Procurado pela reportagem do <B>Estado de Minas<B>, o Ministério de Portos e Aeroportos confirmou a suspensão das operações aéreas do Aeroporto Carlos Prates para o próximo sábado, mas ainda não há prazo definido para retirada das aeronaves do local. “A medida atende o que está previsto na Portaria nº 10.074/SIA da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), publicada em 16 de dezembro de 2022, ainda no governo passado. A Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) está elaborando um instrumento jurídico que permitirá à Prefeitura de Belo Horizonte liderar um processo organizado de encerramento das atividades, conferindo tempo para que as aeronaves hangaradas e os serviços prestados sejam transferidos para outras localidades de forma adequada”, informou a pasta em nota.
O orgão afirmou também que não há nenhuma proposta do governo de Minas para administrar o aeroporto. “Por ora, não há qualquer oferta do Ministério de Portos e Aeroportos do novo governo federal para que o Aeroporto Carlos Prates, Ativo da União, seja administrado pelo governo estadual mineiro”. O governo do estado informou que não pretende assumir a administração do terminal.
Moradores dos bairros vizinhos ao Aeroporto Carlos Prates se reuniram com o prefeito Fuad Noman e outras autoridades, na tarde de ontem, para ter a garantia de que a desativação do aeroporto, será feita no sábado. Eles temem que a decisão possa mudar, principalmente após a entrada de outras autoridades públicas na discussão. Luzia Barcelos, de 58 anos, é moradora do Bairro Jardim Montanhês e participa do coletivo “Atingidos Pelo Prates”, na Região Noroeste de BH. Ela conta que o grupo surgiu há um ano, após a constatação de que os bairros próximos ao aeroporto são muito atingidos pelos ruídos das aeronaves e onde acontecem os acidentes mais graves.
“Essa manifestação de hoje foi idealizada pelo Coletivo Cultural Noroeste BH devido ao temor. A data de fechamento, 1º de abril, vem de uma série de prorrogações de datas e foi determinada em dezembro. A primeira data de desativação era para dezembro de 2021 e depois de três prorrogações de datas, ficou a atual. A reunião é para a gente poder reafirmar que queremos sim a desativação”, disse Luiza.
PAMPULHA Empresas de aviação do Aeroporto Carlos Prates fizeram manifestação ontem em defesa da manutenção do terminal no local, o que comprometeu o funcionamento do terminal da Pampulha.
O objetivo era tentar pousar 40 aviões na Pampulha para mostrar que a quantidade não será comportada em outros aeroportos da capital e da região metropolitana após a desativação do Carlos Prates. “Nenhuma aeronave que queira vir para a Pampulha – e não tenha vaga nos já lotados hangares desse aeroporto – vai conseguir sequer autorização para decolar de qualquer outro lugar”, afirmou Estevan Velasquez, presidente da Associação Voa Prates, entidade que representa os interesses de concessionários, usuários, alunos e funcionários do aeroporto Carlos Prates.
Cerca de 20 aeronaves saíram do Carlos Prates e pousaram na Pampulha, o que foi o suficiente, segundo Velasquez, para demonstrar que o local ficou impraticável. “Ainda deixamos lá [Carlos Prates] quase 100 aeronaves que não conseguiram lugar para vir e foram impossibilitadas de decolar, não tendo outro local para ir”, disse Velásquez ao Estado de Minas, ontem à noite.
AUTORIZAÇÃO O proprietário da Claro Aviação, Cláudio Jorge da Silva, disse que o desmonte do hangar ainda não começou porque depende da autorização de alguns órgãos. “Nós ainda não conseguimos iniciar a desmobilização, pois precisamos da autorização da Anac para começar a operar no novo local, além de autorização da receita estadual, já que todo o meu estoque está aqui e não posso transferi-lo sem a permissão. E ainda estamos com aeronaves no meio das manutenções, é impossível conseguir terminar neste prazo. Nossa expectativa é que o governo reveja as atitudes e se preocupe com o todo, porque a saída abrupta só vai prejudicar o mercado, as pessoas e a estrutura”, disse.
Ele também destaca que a desmontagem de um avião para ser transferido de caminhão é prejudicial para a estrutura e que os donos das aeronaves estão processando a empresa. “Estamos passando por uma fase pós-pandemia, que as fábricas não possuem peças, então tem algumas aqui que nós estamos esperando de seis a oito meses para a entrega. Não temos expectativa de terminar essas manutenções agora e a desmontagem de uma aeronave via terrestre para um novo local é prejudicial para a estrutura, porque ela estraga muito”.
“É possível pegar uma aeronave acidentada e trazer para oficina, mas pegar uma que chegou na oficina voando, desmontar e levar para outro local, não. Ela vai se desgastar e isso virou um problema para nós, pois já iniciaram-se as ações judiciais e começamos a responder por esse tipo de ação, porque os proprietários não querem que as aeronaves saiam daqui de caminhão”, disse também.